O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) anunciou a compra um equipamento para substituir o supercomputador Tupã, que faz a previsão de estiagem e clima e corria risco de ser desligado por falta de verba para o pagamento de energia elétrica e manutenção.
Em vídeo divulgado nesta segunda-feira (14), o diretor do órgão, Clézio di Nardin, disse que o novo aparelho custou US$ 729 mil (R$ 3,7 milhões) e deve ser entregue num prazo entre 50 e 60 dias (veja mais no vídeo acima).
Principal dispositivo do Inpe para previsões climáticas, o Tupã consome R$ 5 milhões em energia ao ano para funcionamento e resfriamento. Por falta de recursos, seria mantido em operação apenas até agosto, segundo disse o diretor do Inpe em entrevista ao G1. Instalado em Cachoeira Paulista, no interior de São Paulo, o supercomputador está em atividade desde 2010 (leia mais abaixo).
É com ele que as equipes do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) fazem os relatórios sobre a estiagem no Brasil. Com o alerta de crise hídrica, os documentos são entregues semanalmente ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Sem os dados, o governo ficaria às cegas quanto à gestão do problema.
No vídeo divulgado nesta segunda, Nardin contou que o Tupã deve mesmo ser desligado após a substituição pelo novo aparelho, que é de porte menor, mas tem capacidade equivalente ao atual. A direção do Inpe informou que a compra ocorreu em parceria com Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Em pronunciamento nesta terça-feira (15) o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, disse que “demora um tempo para fazer os testes” do substituto do Tupã.
“Não é tão simples como um laptop, é complexo. Vai ser muito bom, porque o Tupã já está muito antigo, consome muita energia, usa água para refrigeração, já está ultrapassado. E este computador novo vai substituir com vantagens operacionais, vantagens de energia e outras vantagens dentro do sistema.”
Ele, no entanto, não deu detalhes prazo de transferência para o instituto. Procurada pelo G1, a direção do PNUD Brasil confirmou que, por meio de um projeto de cooperação técnica, estão sendo adquiridos um sistema de processamento de alto desempenho e um sistema auxiliar de armazenamento de dados com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês).
Após as declarações de Marcos Pontes e de Clézio di Nardin, o G1 questionou o ministério e o Inpe sobre a capacidade, a infraestrutura necessária, a vida útil e a instalação do novo aparelho, mas não havia obtido retorno até a última atualização desta reportagem.
Também foram enviadas perguntas sobre os custos de manutenção e energia para manter o Tupã em funcionamento até a instalação de seu substituto.
No vídeo desta segunda, Nardin citou que a compra do equipamento foi aprovada em 3 de junho. No entanto, em conversas com o G1 em 7 e em 11 de junho, o diretor do Inpe não havia citado a aquisição do equipamento. Questionadas, a assessoria de imprensa do Inpe e a do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações não confirmaram a compra de um supercomputador no período.
Em 10 de junho, Pontes falou numa live em rede social sobre a doação de um novo supercomputador ao Inpe. Na ocasião, o ministro disse que uma empresa internacional havia oferecido doado um aparelho, mas não deu detalhes.
À época, o G1 também acionou o ministério pedindo informações, mas não obteve retorno. O Inpe, no entanto, mantinha a informação de que não existia um novo equipamento na instituição.
Tupã
O Tupã foi adquirido em 2010, por US$ 23 milhões, e chegou a ser o 29° equipamento mais potente do mundo, sendo capaz de fazer 258 trilhões de cálculos por segundo.
Em 2017, o supercomputador corria o risco de ser desligado em razão do fim de sua vida útil, mas recebeu equipamentos de suporte que o mantiveram ligado até hoje. De acordo com o Inpe, em outubro de 2020, a instituição planejava a substituição, por causa do alto custo.
À época, em entrevista ao G1, o diretor do Inpe chegou a falar sobre a possibilidade de compra de máquinas menos potentes, mas mais econômicas, como uma alternativa provisória. Ele informou que, com pouca verba, faria a troca do Tupã por dois computadores de menor porte. Apesar disso, com a redução de orçamento, a substituição não ocorreu.
Já o coordenador do Cptec, Gilvan Sampaio, chegou a questionar a decisão de manter computadores de menor porte, alegando que eles não tinham a agilidade necessária.
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