O Laboratório de investigação em Sistemas Socioambientais – LiSS, pertencente ao INPE, produziu um excelente diagnóstico dos desafios para o enfrentamento da pandemia da COVID-19 no Vale do Paraíba e Litoral Norte. A nota técnica elaborada pela equipe do INPE (Análise Integrada da Conectividade Regional, da Vulnerabilidade dos Municípios Metropolitanos à Pandemia e do Modelo Epidemiológico de Espalhamento da COVID-19 na Metrópole Regional) está disponível no site: https://www.lissinpe.com.br/nt-covid-19
Em resumo, a nota técnica apresenta os impressionantes números da epidemia nas capitais e regiões metropolitanas nacionais e quando se trata de cidades médias e pequenas, inseridas em contextos regionais, os números absolutos contabilizados para os casos confirmados e os óbitos são bem menores (subnotificação, falta de testes, assintomáticos).
Por exemplo, São José dos Campos contava, em 29 de abril com 202 casos confirmados e 10 óbitos, Taubaté registrava 35 confirmados e 4 óbitos, Ubatuba tinha 12 confirmados e nenhum óbito, Campos do Jordão apresentou 3 casos confirmados e nenhum óbito, enquanto Areias e Cunha não registraram casos, nem óbitos. Os ´pequenos números´ quando comparados aos ´grandes´ de outras cidades e regiões, parecem criar uma sensação de distanciamento em relação a gravidade do fenômeno.
Esses fatos são muito importantes, porque usados inadequadamente, alimentam narrativas falaciosas, sem base técnico-científica, que buscam disputar, com o campo técnico da saúde pública, as orientações para definição das estratégias de controle e contenção, parte necessária ao enfrentamento coletivo da COVID-19.
Mas os municípios na RMVPLN não são ´ilhas isoladas´, formam um sistema de cidades, altamente conectados através dos fluxos de deslocamentos entre elas. Nosso estudo, apresentado na forma de Nota Técnica, procura construir informações baseadas em evidências que possam estabelecer a racionalidade técnico-científica que explica porque nenhum município sozinho e isoladamente pode ser efetivo no enfrentamento à pandemia de COVID-19. Para fazer isso trabalhamos três eixos de informações necessárias para uma leitura regional integrada.
1- A Vulnerabilidade à COVID-19 para os municípios na RMVPLN.
2 – A Estrutura de Conectividade regional com base em uma simplificada rede da mobilidade metropolitana, baseada em fluxos de deslocamentos individuais por motivos diversos (trabalho, saúde, educação, outros)
3 – Os Caminhos da Epidemia, onde utilizamos o Modelo Epidemiológico para estimativa da probabilidade de chegada e instalação de transmissão sustentada de COVID-19 nos municípios da RMVPLN ( parceria com o MAVE – Grupo de Métodos Analíticos em Vigilância Epidemiológica – PROCC/Fiocruz e EMAp/FGV-RJ)
Conhecendo a mobilidade regional podemos entender as possibilidades de espalhamento da epidemia no espaço metropolitano e o papel de cada município na rede regional, em função de seu grau de conectividade. As medidas de Vulnerabilidade contribuem para entender as chances de potencialização da instalação de forma sustentada da COVID-19 nos municípios. Com a decomposição da Vulnerabilidade em seus componentes relativos a Domicílios/Famílias/Populacionais, Territoriais e ao Sistema de Saúde podemos entender, para cada município, que Ativos precisaremos mobilizar, não como municípios isolados, mas como um recurso do sistema de cidades que forma a RMVPLN.
Por fim, a partir da integração destas informações, produzimos uma leitura para a situação atual da pandemia de COVID-19 na nossa região metropolitana e indicamos recomendações à luz destas evidências. A principal delas é que é urgente o estabelecimento de uma Governança Territorial Solidária, utilizando os instrumentos institucionais que a RMVPLN já possui, o Conselho de Desenvolvimento Regional e estabelecimento um Comitê Técnico-científico Metropolitano para o Enfrentamento Coletivo à COVID-19 no Vale e no Litoral Norte. Em completa sintonia com o Comitê de Enfrentamento do Estado de SP e com a DRS XVII – Regional de Saúde, com sede em Taubaté.