Por que estão ocorrendo nuvens de poeira no Brasil?
Por que estão ocorrendo nuvens de poeira no Brasil?

Por que estão ocorrendo nuvens de poeira no Brasil?

As assustadoras tempestades de poeira ocorridas em setembro e outubro no Brasil são um fenômeno raro por aqui, mas muito comum em outras partes do mundo.

Haboob, como essas tempestades são conhecidas no exterior, significa “destruidor” em árabe. Acontecem com frequência em regiões áridas, principalmente nos desertos do Saara, Kuwait, Iraque e Arizona, e se formam quando ventos fortes de temporais de chuva tocam o solo seco, com resquícios de queimadas, poeira e vegetação seca.

A nuvem de poeira gerada pode atingir 10 km de altura e 160 km de largura, uma muralha com sedimentos de areia, poeira, fuligem e folhas secas, tornando o dia escuro e dificultando a visão.

Essa nuvem de poeira traz ventos de 35 km/h a até mais de 100 km/h e chegam sem nenhum aviso.

Nos últimos dias, imagens de nuvens de poeira invadiram as redes sociais. Diversas cidades sofreram com o fenômeno que já ocasionou seis mortes no país. Em algumas cidades as aulas foram suspensas.

Os estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Maranhão foram já atingidos. Segundo previsões, Tocantins e Bahia podem ser os próximos estados brasileiros a presenciarem o fenômeno.

Diferentemente das tempestades de chuva, as tempestades de areia são difíceis de prever.

O Meteorologista do CPTEC/INPE, Maicon Veber, explicou que “é normal que nos meses de inverno a região central do país passe por longos períodos de estiagem. Com isso, o solo fica seco. E nessas áreas onde o solo fica sem cobertura vegetal, principalmente devido às atividades agrícolas, podem ocorrer essas nuvens de poeira nesse período de transição entre a estação seca e a chuvosa, dependendo da intensidade dos sistemas conectivos que se formam nessas áreas.”

O INPE divulgou uma nota em seu site (veja aqui) explicando a formação dessas nuvens.

As mudanças climáticas ocorridas nos últimos anos contribuíram para o surgimento das tempestades de poeira das últimas semanas.

A estação das chuvas está mais curta. 2021 teve o setembro mais seco desde 1998.

A umidade da floresta Amazônica e os “rios voadores” são responsáveis por regular as chuvas na região sudeste. Quanto mais se desmata a Amazônia, menos umidade chega ao centro-oeste e ao sudeste, resultando em menos ocorrência de chuvas.

O mesmo ocorre com as queimadas no Pantanal. Quanto menor a cobertura vegetal, menor a formação de nuvens de chuva.

No interior do estado de São Paulo, além da falta de chuvas, o cultivo de cana-de-açúcar tem aumentado a cada ano. Neste cultivo, uma extensa área fica exposta, após a colheita. Isso acontece numa região do estado que tem, em média, 12% de umidade do ar, assemelhando-se ao clima de deserto.

Na região entre Batatais e Franca, por exemplo, os satélites captaram uma mancha de queimada de 1.000 Km2, o equivalente a 140 mil campos de futebol.

Além das plantações, o fogo atingiu pequenas reservas de matas e matas ciliares (no entorno dos rios). A tempestade de poeira que atingiu a região varreu essa área com ventos de mais de 100 km/h, carregando toda a fuligem decorrente dessa queimada.

Pesquisadores da Universidade de São Paulo – USP colheram amostras da chuva que ocorreu após a tempestade de poeira e compararam com amostras de chuvas de 16 anos anteriores. O resultado demonstrou um aumento de 50% de marcadores de queimadas.

Câmeras do Clima ao Vivo capturaram a chegada de uma tempestade de areia no noroeste do estado de São Paulo. Veja aqui

Autor

  • Fernanda Soares é jornalista profissional formada há 28 anos. Em 2012 recebeu o prêmio Beth Lobo de Direitos Humanos das Mulheres, oferecido pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, por sua cobertura da desocupação do Pinheirinho. É autora do livro “A solução Brasileira - História do Desenvolvimento do Motor a álcool no Brasil”, publicado e distribuído pelo SindCT, de nove livros paradidáticos infantis, da editora Todolivro, e do livro "Tudo o que você sempre quis saber sobre a urna eletrônica brasileira", publicado pelo SindCT. Em julho de 2022, Fernanda ofereceu, gratuitamente, os direitos autorais do livro sobre a urna eletrônica ao TSE. Em 2023, recebeu a Medalha Cassiano Ricardo, oferecido pela Câmara Municipal de São José dos Campos.