MONAN é um modelo de previsão para oceanos, superfícies continentais e atmosfera
Um modelo de previsão é um cálculo matemático, como um software, que recebe as informações de satélites, dados de radares e de outros sistemas de medição para realizar as previsões de tempo, do comportamento dos oceanos, dos ventos, etc. Para cada tipo de previsão, existe um sistema de modelagem específico.
Um grupo de pesquisadores do INPE, em parceria com INMET, LNCC, INPA, CENSIPAM, DECEA, Exército Brasileiro, Marinha e diversas Universidades, propôs a criação de um sistema de modelagem único, capaz de abranger todos os sistemas já existentes e ir além, analisando também a influência do homem na natureza.
O Model for Ocean-laNd-Atmosphere predictioN – MONAN (Modelo para Previsão dos Oceanos, Superfícies continentais e Atmosfera) recebeu um nome de origem tupi-guarani: “Representação de Monan é como algo infinito. Para os índios das nações falantes das línguas tupi-guaranis não há noção do paraíso cristão, nem céu, nem inferno, como nas crenças cristãs e, sim, a “Terra sem males” ou Ybymarã-e’yma, local onde eles vivem com os seus ancestrais e deuses, sem guerra, fome ou qualquer mazela humana.”
MONAN, portanto, simboliza a busca de um mundo melhor, sustentável, fraterno e com justiça social.
A criação de um modelo comunitário contribui para a busca deste mundo melhor através da geração de informações mais acuradas do comportamento e evolução dos componentes do planeta Terra. Seu objetivo é produzir a melhor previsão de tempo, de clima e ambiental disponível no mundo para a região da América do Sul e oceanos adjacentes. Após sua conclusão, este modelo deverá ser capaz também de analisar as mudanças climáticas a longo prazo e de fornecer previsões mais assertivas a curto prazo, colaborando com a prevenção aos desastres naturais.
Iniciado em 2021, o projeto de criação do MONAN propõe cinco vertentes:
1. Envolve todo o Sistema Terrestre
a. Com componentes da atmosfera, biosfera e solos continentais, criosfera, oceanos, espaço superior.
b. Alguns componentes com complexidade variável (p. ex., reatividade química e aerossóis).
2. Unificado
a. Apropriado para escalas de fenômenos atmosféricos da ordem de 100 metros até 1000 km.
b. Escalas temporais: imediata (horas), tempo (dias), sub-sazonal (mês), sazonal (estações do ano) e mudanças climáticas (10-100 anos).
3. Acurado
a. Reduzido número de aproximações e uso do estado-da-arte em métodos numéricos de solução do sistema de equações diferenciais em supercomputadores.
b. Ancorado em um robusto sistema de assimilação de dados de satélites e medidas locais.
c. Aperfeiçoado com uso de técnicas de inteligência artificial.
4. Comunitário
a. Código aberto e gratuito, gerido por um grupo de especialistas em computação de alto desempenho.
b. Workshops e treinamentos para a comunidade.
c. Versão instalada no sistema SINAPAD para desenvolvimento e pesquisas pela comunidade.
5. Governança Multi-Institucional
É um projeto ambicioso e de longo prazo. O cronograma inicial aponta que o código só estará concluído em 10 anos. Porém, em até 2 anos, poderão entregar a primeira parte do novo sistema de modelagem, para a realização da previsão do tempo, com resultados mais precisos.
O Dr. Saulo Freitas, pesquisador do CPTEC, atua na comissão para o desenvolvimento do novo sistema de modelagem e explicou que, após um diagnóstico realizado pelo INPE, foi constatado que os sistemas em uso estão ficando defasados.
Além disso, os sistemas de modelagem requerem o uso de supercomputadores, como o Tupã, que, mesmo passando por um “up grade” em 2020, ainda precisa ser substituído por um mais eficiente.
“Um supercomputador custa em torno de 50 milhões de dólares e precisa ser substituído a cada 4 anos. Os servidores do INPE estão se aposentando e não há reposição de pessoal. Somos um país pobre, com poucos recursos, falta mão de obra”, explicou o Dr. Saulo Freitas.
Mesmo em parceria com universidades e instituições de pesquisa, o INPE necessita de infraestrutura para dar andamento aos novos projetos. “Precisamos otimizar recursos humanos e computacionais, zelar pelo recurso público. Em vez de ter várias frentes, trabalhando em sistemas que não se comunicam, o melhor é ter todos trabalhando juntos. A gente consegue otimizar recursos e trazer resultados melhores para a sociedade. Nós somos funcionários públicos, contratados pela sociedade e temos que trabalhar para a sociedade. É importante investir no MONAN para que possamos competir com produtos externos e garantir a manutenção do INPE. Se não atualizarmos os sistemas, para quê manter a instituição? Nós temos competência, precisamos de organização e infraestrutura,” conclui Dr. Saulo Freitas.