Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) alertam para o risco de incêndios em ‘proporções descontroladas’ na Amazônia.
Os dados mostram que o desmatamento e as queimadas na região estão mais altas que no ano passado. Esse fator, no entanto, conta com um ingrediente a mais: a previsão de seca na região do Acre e oeste do Amazonas que pode transformar queimadas em grandes incêndios.
A nota técnica foi produzida por pesquisadores de São José dos Campos e Cachoeira Paulista ligados aos institutos federais. O documento agrupou dados para pedir atenção do governo federal para elaboração de estratégias de prevenção a desastres naturais na região amazônica.
Segundo Luiz Aragão, pesquisador do Inpe e autor do estudo, para entender o risco que a região corre é preciso analisar três fatores, sendo o primeiro deles o aumento no desmatamento. A taxa entre agosto de 2019 e de maio de 2020, já representa 89% da área desmatada em todo ano anterior.
Todas as áreas após processo de desmatamento são queimadas — o fogo é usado como forma de manejar a terra. Com maior área desmatada, maior o índice de queimadas. Os dados já mostram isso: segundo o Programa Queimadas, do Inpe, de agosto de 2019 a maio de 2020 foram detectados mais de 78 mil focos de incêndio na Amazônia, quantidade maior que no mesmo período entre 2018 e 2019.
Este ano, além das altas, um fator no clima pode acelerar as queimadas: a seca. O motor essencial do ciclo de chuvas é a água dos oceanos. Quando aquecidas, elas alteram a circulação atmosférica, mudando os padrões de chuva.
Neste ano, o índice acima de toda a média histórica aponta para uma seca ainda mais intensa que as últimas, entre 2015 e 2016. A união entre o fogo e a estiagem é motor para transformar um incêndio em uma única área em algo de enormes proporções.
“O poder de ignição do fogo vai ser maior. Estamos a beira de um desastre socioeconômico e ambiental. As comunidades estão expostas, vai impactar a economia de quem vive ali, sua saúde, e a floresta”, comenta Liana Anderson, pesquisadora do Cemaden e autora do estudo.
De acordo com os técnicos, o objetivo do estudo foi fazer um alerta ao governo federal dos riscos, para que possam se antecipar ao risco e prevenir um desastre ambiental e minimizar os impactos.
“O Brasil tem atuado através de medidas emergenciais, mas essas ações deve ser realizada a longo prazo. O estudo permite uma estratégia mais longo prazo e precisamos que isso seja priorizado”, comenta Aragão.
Saúde pública
O documento ainda faz uma relação com o risco de incêndio com a saúde pública. Em meio à pandemia, todos os esforços estão voltados ao combate ao Covid-19 e os estudiosos apontam que os incêndios podem acentuar o risco de colapso do sistema público.
Eles avaliam que a região não chegou ao pico da curva epidêmica e que há o risco de que isso aconteça em meio a alta de queimadas.
“Incêndios vão derrubar a qualidade do ar, podem atingir comunidades e essas pessoas vão precisar de suporte de saúde em meio ao caos, no pico dos casos de coronavírus. É importante que o governo observe isso e tenha o combate às queimadas como frente de saúde pública”, comenta Luiz Aragão.
Até a noite desta quinta-feira (4), só a Amazônia registrava mais de 46 mil infectados pela covid-19, sendo mais de 2,1 mil mortos.
A reportagem do G1 acionou o governo federal para saber quais medidas vem sendo estudadas diante dos relatórios feitos por pesquisadores ligados aos institutos federais, mas aguardava o retorno até a publicação.
ABAIXO, MATÉRIA ORIGINAL