O Sindicato Nacional de Gestores em Ciência e Tecnologia (SindCT) acredita que o anúncio feito nesta terça-feira (14) da reestruturação no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) dá indícios de que há uma ‘estrutura paralela de gestão’ no órgão. A denúncia foi apontada por por pesquisadores e técnicos em cartas abertas ao comitê da instituição que vai escolher novo diretor.
As cartas foram elaboradas por membros do Conselho Técnico-Científico do Instituto e por pesquisadores de diversos departamentos e além de denunciar a gestão paralela, pedem atenção ao risco de favorecimento ao atual diretor, Darcton Policarpo Damião, no processo de seleção do novo diretor.
“Estrutura paralela esta, não aprovada regimentalmente. O ministro e o diretor interino apresentaram a estrutura paralela. Eles mostraram a prova. Ele [Darcton] disse que toda a segunda-feira ele se reúne com o grupo. Aquelas pessoas [da nova organização apresentada] devem ser o grupo com quem ele trata isso. Num fórum privilegiado”, disse o diretor do SindCT para a instituição, Acioli Antonio de Olivo, que também é pesquisador aposentado do Inpe.
O programa de seleção do novo diretor do Inpe teve nove inscritos. Os nomes dos candidatos não foram divulgados e estão em fase de homologação. Uma das críticas feitas em uma das cartas abertas foi que a situação atual coloca o atual diretor em “uma vantagem competitiva” na disputa com a reestruturação promovida por ele.
“Se está sendo feita uma mudança de estrutura e são nove candidatos à direção, o único que tem condições de apresentar uma proposta para essa nova estrutura é qual?”, questiona Acioli.
Darcton ocupa o posto interinamente desde que Ricardo Galvão foi demitido por reagir a críticas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que acusou a equipe de pesquisadores do Inpe de mentir sobre dados do desmatamento da Amazônia.
Na coletiva, Darcton negou as acusações de técnicos do Inpe sobre a criação de uma estrutura paralela de gestão do instituto que poderia, segundo uma carta aberta, favorecer a candidatura dele ao posto de diretor do Inpe.
“Comitê de busca [do novo diretor] é externo. São nomes renomados da ciência brasileira, que fazem uma triagem a partir de um certo número de candidatos, que vira uma lista tríplice. Só aí que o ministério faz a escolha”, afirmou.
Segundo Acioli, a comunidade do Inpe não foi procurada para contribuir com propostas para a reestruturação anunciada nesta terça, que reduziu de 15 para oito áreas de atuação e pesquisa.
“Nós não fomos procurados, servidores não foram procurados, o Conselho Técnico-Científico [CTC] não foi procurado. Todas essas mudanças não passaram pelo órgão”, disse o diretor do SIndCT.
O CTC é um conselho pelo qual toda mudança regimental e estrutural precisa passar. Integrantes da gestão anterior e da nova, que foi eleita, mas ainda não tomou posse, assinaram uma das cartas abertas.
“Como o processo começou ano passado, como dito na coletiva, eles deveriam ter submetido aos antigos membros então, já que os atuais ainda não foram empossados”, disse. “Não somos contra mudanças. Somos favoráveis a mudanças que sejam justificáveis. Em nenhum momento elas foram justificadas até agora”, finaliza.
O G1 procurou o Inpe para comentar as declarações da entidade e aguardava retorno até a última atualização da reportagem.
Mudanças
O Inpe tinha 15 setores e o estudo, segundo Darcton, identificou a necessidade de compactá-las. “Quando menor o número, melhor a gestão”, disse.
Segundo ele, as áreas foram reagrupadas, mas nenhuma função foi suprimida. “As adequações foram em busca de eficiência, para buscar sinergia entre as áreas”, afirmou.
De acordo com ele, um estudo de eficiência da estrutura do instituto foi feito durante 2 meses para traçar um ‘diagnóstico’ e adotar mudanças.
Entre as mudanças anunciadas foi a exoneração de Lubia Vinhas do cargo de coordenadora da área chamada Observação da Terra, que faz monitoramento da devastação da Amazônia. O anúncio foi feito na semana seguinte à divulgação pelo Inpe do recorde para o mês de junho do número de alertas de desmatamento desde 2015. Lubia informou não saber o motivo da exoneração, mas disse entender tratar-se de um processo de estruturação no Inpe proposto pela atual direção.
Como antecipado pelo G1, a confirmação do pesquisador Gilvan Sampaio de Oliveira no posto foi feita durante a entrevista coletiva feita durante a tarde pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, e pelo diretor interino do Inpe, Darcton Policarpo Damião.
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