Fórum de C&T se manifesta pela realização de concursos de nível médio nas Unidades de Pesquisas do MCTI
“Em campos de enorme disputa, que envolvem fronteiras científicas e tecnológicas em várias áreas, é incomensurável o risco para a sociedade brasileira que ora estamos enfrentando por falta de tais profissionais tão necessários”
Veja o manifesto na íntegra:
Pela realização de concursos de nível médio nas Unidades de Pesquisas do MCTI
Nós do Fórum das Entidades Representativas dos Servidores das Carreiras de Ciência e Tecnologia vimos reiterar nossa solicitação de uma intervenção direta e incisiva do MCTI junto ao Ministério de Gestão e Inovação, em defesa da realização urgente de concursos públicos para os cargos de nível intermediário de nossas carreiras, quais sejam, os de técnico e assistente em C&T.
Os concursos ora em andamento, para cargos de nível superior (pesquisadores, tecnologistas e analistas em C&T) minoram, mas de forma alguma significam o fim da possibilidade de colapso do sistema de instituições de C&T por falta de pessoal. E não só porque o número de vagas aprovadas para tais cargos é insuficiente para suprir as perdas de pessoal e o aumento de atribuições dessas instituições nos últimos anos. Mais grave é a total falta de resposta, até o momento, do governo, em particular do MGI, de nosso pedido de urgência para concursos de técnicos e assistentes que, caso não ocorram, acarretarão a interrupção e mesmo a perda de pesquisas realizadas em diferentes campos do conhecimento.
Produção científica, como é sabido por qualquer pessoa com o mínimo de vivência na área, é um processo coletivo. A elaboração de pesquisas e o desenvolvimento tecnológico delas decorrentes não são fruto exclusivo da “genialidade” de poucos iluminados. Técnicos e assistentes são essenciais em toda a cadeia de ações necessárias, por exemplo, à realização de estudos e a proposição de hipóteses em nossos campos. Esses profissionais são aqueles que se dedicam, por exemplo, à preparação de amostras em várias áreas, à coleta de espécimes a serem pesquisadas, à construção e manutenção de equipamentos altamente especializados, ao controle da produção de fármacos e radioisótopos, ao acompanhamento de pacientes participantes de pesquisa, entre várias outras ações. Assistentes, por sua vez, são trabalhadoras e trabalhadores com foco em atividades de gestão altamente especializadas, tratando desde a compra de matéria-prima para pesquisas à organização da vida funcional e acadêmica – com suas especificidades de atuação – de pesquisadoras e pesquisadores das instituições onde atuam.
Preocupou-nos, sobremaneira, a visão surpreendentemente limitada de parte da burocracia do MGI (que reproduz o pensamento do governo anti-ciência que derrotamos) – externada a este Fórum em reunião no começo deste governo – de que tais atividades podiam ser facilmente terceirizadas e executadas através de contratos temporários de trabalho. Isto demonstra não só um total desconhecimento da enorme necessidade de especialização desses profissionais, especialização que necessariamente se completa em nossas instituições de pesquisa, fruto de anos de trabalho. Essa visão ignora, ainda, que se trata de profissionais que lidam com informações estratégicas, muitas das vezes sigilosas, de interesse nacional.
Com o risco de aposentadorias massivas de técnicos e assistentes nos próximos anos (já que a maior parte já se encontra sob vigência do “abono de permanência”), muitos de nossas pesquisas correm o risco de serem paralisadas, e de que muitos de nossos laboratórios e mesmo instituições sejam fechadas. Em campos de enorme disputa, que envolvem fronteiras científicas e tecnológicas em várias áreas, é incomensurável o risco para a sociedade brasileira que ora estamos enfrentando por falta de tais profissionais tão necessários.
Por fim, surpreende-nos ainda que um governo comandado por um presidente que tem a exata noção da importância dos profissionais de nível intermediário (sendo ele próprio um deles) – tanto que é o responsável pela criação de dezenas de IFES por todo o país – tenha, em posições estratégicas, pessoal com visão limitada, tacanha, elitista e insustentável de um serviço público para poucos “bem formados”.
Contamos com o apoio do MCTI nessa empreitada do Fórum.
Fórum Nacional das Entidades Representativas dos Servidores das Carreiras de Ciência e Tecnologia