Mulheres STEM: um olhar interseccional de gênero e raça
Mulheres STEM: um olhar interseccional de gênero e raça

Mulheres STEM: um olhar interseccional de gênero e raça

Por Regla Somoza e Magali Dantas


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A participação de mulheres nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) é marcada por profundas desigualdades decorrentes da interseção entre gênero e raça. Historicamente dominado por homens brancos, o campo científico marginaliza essas mulheres, tanto em termos de representatividade quanto de oportunidades.

De acordo com a UNESCO (2021), apenas 33% dos pesquisadores em áreas de STEM são mulheres, e esse número é ainda menor para aquelas que pertencem a grupos racializados.

A análise interseccional de gênero e raça é essencial para compreender as barreiras duplas enfrentadas pelas mulheres negras, que são afetadas tanto pelo sexismo quanto pelo racismo.

Além dessas dificuldades, mulheres STEM enfrentam a descriminação e o racismo epistêmico, que desvaloriza suas contribuições científicas e as invisibiliza dentro dessas áreas.

Mesmo com avanços institucionais, a exclusão de gênero e raça persiste, evidenciando a necessidade de maior inclusão nas ciências exatas e tecnológicas.

Dados de 2022 sobre servidores e servidoras do Poder Executivo Federal revelam uma baixa presença de mulheres negras nas áreas de Desenvolvimento Tecnológico (12%) e de Pesquisa em Ciência e Tecnologia (4,7%).

A maioria dos servidores e servidoras das carreiras STEM do Poder Executivo Federal estão lotados no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e no Ministério da Saúde. Embora estes órgãos, recentemente, tenham promovido iniciativas de inclusão e diversidade nas áreas de STEM, a participação feminina, especialmente de mulheres negras, permanece limitada.

Estudos sobre as relações de trabalho no Brasil evidenciam que mulheres negras estão na base da pirâmide salarial, com menor retorno esperado do investimento em educação e qualificação.

No campo de STEM, essa desigualdade também é visível, sendo que homens brancos com maior índice de permanência nas instituições recebem salários e auxílios de pesquisa significativamente superiores ao das mulheres negras nas carreiras de Desenvolvimento Tecnológico (DT) com a mesma qualificação educacional.

Esse cenário é agravado pela falta de políticas eficazes que promovam a equidade racial e de gênero, perpetuando a exclusão dessas mulheres em cargos de liderança e em posições de prestígio no setor científico e tecnológico. Portanto, é urgente a implementação de políticas públicas que incentivem a inclusão de mulheres negras em áreas de STEM, promovendo maior equidade e diversidade. Além disso, é necessário reconhecer que a ciência só avança plenamente quando considera diferentes perspectivas e vivências.

A presença de mulheres racializadas não só amplia a diversidade, mas também traz inovações e soluções mais abrangentes para os desafios nacionais e globais.

Regla Duthit Somoza

Mulher negra, naturalizada brasileira, com trajetória profissional nas áreas de oceanografia e extremos hidrológicos. Na sua pós-graduação obteve especialização em Sensoriamento Remoto (2006), mestrado em Meteorologia (2010) e doutorado em Sensoriamento Remoto (2015), todos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Obteve graduação em Engenharia de Hidrografia e Oceanografia (1999) e em Processos Gerenciais (2021).

Sua formação inclui certificações da ENAP, como Gestão Ágil e Transformação Digital, além do LideraGOV 4.0 (2024), programa de lideranças do governo. Desde 2014, atua no CEMADEN como Tecnologista de Extremos Hidrológicos, responsável por previsões de risco e emissão de alertas de probabilidade de ocorrência de eventos hidrológicos como inundações e enxurradas. Atualmente, é Diretora de Diversidade e Inclusão no SindCT e coautora do livro Mulheres Negras no Serviço Público Federal.

Esposa de Eduardo e mãe de Victória e Kênia, a família é sua maior inspiração. Doutrina: “O pessimista queixa-se do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas.”

Magali Dantas

Mestra em Governança e Desenvolvimento pela Escola Nacional Administração Pública (Enap), Brasília – DF 2020. Pós-graduada em Recursos Humanos pela Universidade Anhanguera, Porto Alegre 2010. Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre 1997. Técnica Judiciária na Justiça Federal de 1º grau do Rio Grande do Sul-SJRS.

Membra fundadora e articuladora do Grupo de Trabalho para Direitos Humanos, Equidade de Raça, Gênero e Diversidade da SJRS e membra indicada para a Rede Colaborativa do Acordo de Cooperação nº 95/2019 (Sistema de Justiça do RS) para Direitos Humanos, Equidade de Raça, Gênero e Diversidade. Membra eleita como representante dos servidores da Subseção de Porto Alegre para a Comissão de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio Moral e Sexual do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Foi Coordenadora-geral de capacitação de Altos Executivos na ENAP. Vencedora do Prêmio Espírito Público 2024 na categoria Gestão de Pessoas. Pesquisa ações afirmativas e de equidade no poder judiciário. É mãe do Raphaël.