8 de março, dia internacional da mulher: pouco a comemorar
8 de março, dia internacional da mulher: pouco a comemorar

8 de março, dia internacional da mulher: pouco a comemorar

Existe um desequilíbrio na sociedade contemporânea brasileira entre como se percebe a posição da mulher e como realmente se dá a participação feminina nos espaços de poder, no mercado de trabalho e na família.  A atenção cada vez maior ao chamado empoderamento feminino, embora importante, pouco toca nas diferenças e desigualdades que continuam a pleno vapor determinando quem vive e quem morre, quem tem sustento e quem não tem, quem tem poder e quem é subjugada.  Não é raro a percepção de que as mulheres já chegaram “lá” e que as “queixas” são infundadas, no entanto baseado em dados, o caminho ainda é muito longo.  

Nas eleições de 2022 houve aumento da participação de candidaturas femininas para 33,3%, superando a cota de 30% determinada pela legislação eleitoral. Considerando a Câmara dos Deputados, o Senado, as Assembleia Legislativas e os governos estaduais foram eleitas apenas 302 mulheres e 1.394 homens, uma participação feminina de apenas 17,8%. As mulheres são sub-representadas nesses determinantes espaços de poder, que já nasceram ignorando a presença delas.  Uma informação prosaica é que o plenário do Senado da República não tinha banheiro feminino até 2016, cabendo às Senadoras utilizarem o banheiro do restaurante mais próximo.  

No quesito quem vive e quem morre, os homens não vão á óbito em decorrência dessa condição, fato diverso ocorre entre as mulheres vítimas de feminicídio, entendido como o crime em razão de violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher.  Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher foi assassinada a cada 6 horas apenas no primeiro semestre de 2022, dessas 699 foram vítimas de feminicídio, ou seja, apenas por serem mulheres.  

No mercado de trabalho a desigualdade entre homens e mulheres segue imensa. A participação das mulheres é de 44%, portanto menor que a dos homens indicando que desde o ponto de partida as condições de inserção são distintas. Esse fenômeno decorre de que participar ou não do mercado de trabalho é uma decisão tomada a partir da inserção também muito desigual na família, em que as mulheres são as principais responsáveis pelos afazeres domésticos e cuidados com filhos, idosos ou outros que requerem atenção.  

Uma vez inseridas no mercado de trabalho as mulheres enfrentam mais desemprego, mais subocupação e menores salários, quadro ainda mais agravado quando são mulheres negras. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PnadC), realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), para o 3º trimestre de 2022 a taxa de desemprego entre as mulheres era de 11,0% e 6,9% para os homens.  Se somadas ao desemprego a condição de subocupação, quando a pessoa trabalha menos horas que o necessário, e a condição de desalento, quando a pessoa desiste de procurar trabalho por acreditar que não tem vaga, temos o percentual de 25,3% entre as mulheres e 15,9% entre os homens. Entre as mulheres negras a taxa ficou em 30,2% e, entre as não-negras 19,2%.  

Os rendimentos das mulheres foram em média 21% menores que dos homens. Essa situação ocorre mesmo quando as mulheres são a maioria da categoria/ocupação, caso escandaloso nos serviços de educação, saúde e serviços sociais, nos quais as mulheres são 75% da categoria e recebem em média 32% menos do que os homens.  

Se você é um homem e trabalha ao lado de mulheres que ganham o mesmo ou mais do que você tenha em conta que essa é uma situação de exceção que confirma a regra vigente de pior inserção e pior condição das mulheres. O mesmo vale para mulheres que algumas vezes bem posicionadas desconfiam da realidade mostrada por meio de fatos e dados, e consideram um pouco de exagero as informações aqui prestadas. Lembramos mais uma vez que trabalhamos com ciência e não com nossas percepções, que podem realmente nos confundir.  

É fruto da luta das mulheres, e homens que não as abandonam, o aumento da atenção da mídia, das empresas e de governos sobre o a desigualdade de gênero. No entanto, o  aumento da atenção está muito longe de ser traduzido em atos e resultados.  A maior exposição pode vir acompanhada até mesmo de um certo cansaço quando os mesmos temas são trazidos à tona: inserção desigual, diferença salarial, maior desemprego e  violência.  Temos então o duplo desafio: o de combater as desigualdades aqui expostas e não nos permitirmos confundir a aparência com a realidade ou a grita com a resolução do problema, e quando o cansaço bater nos inspiremos nas mulheres gigantes que nos trouxeram até aqui: viva a luta das mulheres!  

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