Governo de SP e prefeitura de São Sebastião foram avisados do risco de desastre
Governo de SP e prefeitura de São Sebastião foram avisados do risco de desastre

Governo de SP e prefeitura de São Sebastião foram avisados do risco de desastre

Moradores relatam, no entanto, que não houve alerta para que deixassem suas casas, apesar do risco de deslizamento. Decisão seria justificada pelo receio de espantar turistas durante o carnaval

São Paulo – Em entrevista nesta quarta-feira (22), o diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Osvaldo Moraes, afirmou que o governo de São Paulo e a prefeitura de São Sebastião foram avisados com dois dias de antecedência sobre o risco de desastre no litoral norte. A região foi atingida, entre sábado (18) e domingo (19) por fortes chuvas, que provocaram destruição e mais de 40 mortes. 

O volume de chuvas ultrapassou os 600 milímetros, o que é considerado um “evento climático extremo”. Em menos de 24 horas, choveu mais do que em dois meses. Ao portal g1, Osvaldo Moraes explicou que o Cemaden conseguiu fazer a previsão do temporal com 48 horas de antecedência. “Inclusive dando a localização do desastre”, citou, em referência à Vila do Sahy, onde mais de 30 pessoas morreram. A informação também foi confirmada na última quinta-feira (16) pelo ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes. 

Ao receber o alerta, o governo estadual, de Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou ter repassado o alerta na ocasião ao município de São Sebastião, administrado pelo prefeito Felipe Augusto (PSDB). Um dia depois, a Defesa Civil de São Paulo enviou o primeiro alerta por SMS ao celular de 34 mil pessoas cadastradas no sistema do Litoral Norte e região. A mensagem, no entanto, não dava dimensão exata do risco, ao citar apenas “chuva isolada”. Além disso, a informação chegou a apenas pouco mais de 10% da população local, de 288 mil habitantes, segundo o IBGE. 

Ministério Público vai apurar responsabilidades em tragédia no litoral norte de São Paulo

Moradores não foram avisados

A reportagem detalha que, durante o temporal no sábado, o Cemaden emitiu novos alertas. Um deles, às 21h27, classificava como muito alto o risco de movimento de massa (deslizamento de terra). O órgão, ligado ao governo federal, destaca que esse tipo de classificação significa que o “desastre vai acontecer”. “A função do Cemaden é prever o desastre e isso foi feito. Nossa responsabilidade termina aí. Emitimos o alerta para os órgãos na quinta-feira. Eles foram avisados”, ressalta o diretor. 

Os deslizamentos começaram por volta das 2h de domingo. Quatro horas depois já se contavam o número de mortos e desaparecidos. De acordo com balanço da Defesa Civil, divulgado também na manhã desta quarta, 48 óbitos foram oficialmente confirmados – 47 em São Sebastião e uma, em Ubatuba. Outras 30 pessoas, pelo menos, seguem desaparecidas. 

Até o fim da manhã de hoje, 26 corpos já haviam sido identificados. Entre as vítimas, 10 eram homens adultos. Outras nove eram mulheres adultas e sete, crianças. Há 1.730 pessoas desalojadas e 766 desabrigados. 

Os moradores também relataram ao veículo que não foram avisados e que não houve nenhum alerta da Defesa Civil para que deixassem suas casas. Como resposta, o órgão estadual afirma que o risco foi divulgado pela imprensa, para celulares e pelas redes sociais, além de mensagens de SMS a cerca de 34 mil pessoas cadastradas. Por parte da defesa Civil da cidade de São Sebastião, no entanto, não foram publicados os avisos sobre o risco. Ainda segundo o g1, a decisão de não fazer os alertas seria pelo risco de afastar o turista do município no carnaval. 

Chuva segue nesta quarta

Balanços da própria prefeitura mostram que eram esperadas 500 mil pessoas para os quatro dias. O temporal deixou também as áreas atingidas sem energia e sem sinal de telefonia, o que dificultou ainda mais a comunicação. Também não havia nenhum abrigo montado para o qual as pessoas pudessem recorrer e deixar as áreas de risco. Os governos de Tarcísio de Freitas e Felipe Augusto estão sendo cobrados sobre a forma como as pessoas foram avisadas. 

O governo federal também se manifestou sobre o problema por meio do ministro Waldez Góes. O chefe da Integração e do Desenvolvimento Regional afirmou que a pasta atuará para mudar as ações. “É importante a gente entender que nós precisamos criar alertas localizados e com preparação dessa comunidade. Quando fala de sistema de alerta por sirene, por exemplo, é toda a comunidade se preparada para isso, a igreja, a escola, comerciante, a sociedade”, declarou. 

Ainda nesta quarta, a Defesa Civil estadual emitiu alerta de previsão de novos temporais sobre a região para hoje, inclusive sobre o município de São Sebastião. Ubatuba, lhabela e Caraguatatuba também deverão chuvas fortes durante a tarde e a noite.

Saída 

As chuvas também interditaram estradas, e foram registradas filas em supermercados e hospitais. Empresas de táxi aéreo chegaram a cobrar até R$ 40 mil para buscar turistas ilhados, segundo reportagem do portal UOL. Ainda há interdições totais ou parciais em rodovias. O governo de São Paulo divulgou hoje que a subida da serra por ser feita pelo Sistema Anchieta-Imigrantes ou pela Rodovia dos Tamoios, a depender do ponto na Rio-Santos que o motorista se encontra. 

Ontem (21), Tarcísio pediu para que os turistas que viajaram para o litoral norte retornassem para as suas cidades. No fim da tarde, mais de 270 mil veículos saíram do litoral pelo sistema Anchieta Imigrantes. Outros 123 mil deixaram o local pela Rodovia dos Tamoios. O republicano divulgou nesta quarta que acionou a Justiça para conseguir autorização para retirar as famílias de casas que estão em área de risco. Segundo ele, há dificuldades em convencer os moradores por conta de saques nas casas da região. 

“A gente vai tentar convencer, vamos usar todos os argumentos, vamos tentar acolher, vamos tentar mostrar que eles vão ser abrigados, que a gente vai proteger o patrimônio, garantir a segurança e, em último caso, a gente vai fazer a remoção compulsória”, alegou o governador em entrevista coletiva. 

rabalho de buscas e doações

Também estão previstas para hoje operações de buscas no ponto de bloqueio da Rio-Santos, na altura da Praia Preta, onde há carros soterrados. A informação foi repassada pelo tenente-coronel Hengel Ricardo, responsável pela operação no litoral norte. 

Os trabalhos de resgate seguirão especialmente em bairros da costa sul da cidade de São Sebastião, como a Vila do Sahy, área que concentra a maioria das vítimas da tragédia, e em Juquehy. Além de bombeiros e agentes da Defesa Civil, os próprios moradores participam das buscas. O Exército enviou aeronaves para ajudar nos trabalhos. Mais de 600 pessoas estão envolvidas na operação. 

O abastecimento de água, segundo a Sabesp, foi 100% restabelecido. O município, contudo, segue também arrecadando cestas básicas e mantimentos para distribuir à população. O governo de São Paulo colocou para receber doações a conta bancária Banco do Brasil, Agência 1897-X, conta corrente número 19.490-5, CNPJ/MF: 44.111.698-0001/98. Ou pela chave PIX: 44.111.698-0001/98. 

A compra de cobertores poderá ser garantida por meio de depósitos na Conta Bancária Banco do Brasil, Agência 1897-X, conta corrente número 19.7771-8, CNPJ/MF 44.111.698/0001/98. A chave PIX é: doacoesfussp@sp.gov.br.

As entregas de alimentos não perecíveis, água mineral e roupas limpas e em bom estado para uso, devem ser feitas no depósito do Fundo Social de São Paulo (Fussp) que fica na Avenida Marechal Mário Guedes, 301, Jaguaré, na capital paulista. O estabelecimento está aberto  de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. 

Há ainda outros pontos de doações oficiais espalhados pelo estado. Podem ser doados alimentos não perecíveis, água mineral, produtos de higiene pessoal, e de limpeza, fraldas geriátricas e infantis, roupas, masculino, feminino adulto e infantil, calçados, cobertores, colchões, camas, toalhas, roupas de cama e eletrodomésticos, entre outros.

Publicado por Rede Brasil Atual