No Estadão, Mourão lança projeto autoritário de governo pra derrubar Bolsonaro
No Estadão, Mourão lança projeto autoritário de governo pra derrubar Bolsonaro

No Estadão, Mourão lança projeto autoritário de governo pra derrubar Bolsonaro

Em artigo em que prega “limites e responsabilidades“, na edição desta quinta-feira (14) do jornal O Estado de S.Paulo, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) critica o “estrago institucional” causado por Jair Bolsonaro frente à crise aprofundada pela pandemia do coronavírus e se coloca como solução “há tempo para reverter o desastre” com um projeto com requintes de autoritarismo que faria inveja a qualquer ditador mundo afora.

Ao estilo Michel Temer, em sua “Ponte para o Futuro”, o ex-presidente do Clube Militar do Rio de Janeiro que se lançou à política partidária afirma que mais do que uma crise sanitária e econômica, a pandemia pode vir a gerar uma convulsão social, que traria consequências de “segurança” ao país. Sendo a crise “política”, segundo Mourão, ela só pode ser enfrentada pela “ação do Estado”.

“Para esse mal nenhum país do mundo tem solução imediata, cada qual procura enfrentá-lo de acordo com a sua realidade. Mas nenhum vem causando tanto mal a si mesmo como o Brasil. Um estrago institucional que já vinha ocorrendo, mas agora atingiu as raias da insensatez, está levando o País ao caos”, descreve o militar, em crítica direta ao superior hierárquico no governo, resumindo logo após em quatro pontos as linhas que se propõe a enfrentar com seu projeto de poder.

AI-5

A primeira – e principal – crítica de Mourão é em relação à “praga da polarização”, em que começa a discorrer um ato aos moldes do AI-5, com repressão direta ao trabalho da imprensa.

“A imprensa, a grande instituição da opinião, precisa rever seus procedimentos nesta calamidade que vivemos. Opiniões distintas, contrárias e favoráveis ao governo, tanto sobre o isolamento como a retomada da economia, enfim, sobre o enfrentamento da crise, devem ter o mesmo espaço nos principais veículos de comunicação. Sem isso teremos descrédito e reação, deteriorando-se o ambiente de convivência e tolerância que deve vigorar numa democracia”, escreve Mourão.

O segundo ponto, segundo o general, é o que ele chama de “degradação do conhecimento político por quem deveria usá-lo de maneira responsável”. Para isso, ele propõe uma obediência militar de governadores, prefeitos e do judiciário ao governo central.

“Governadores, magistrados e legisladores que esquecem que o Brasil não é uma confederação, mas uma federação, a forma de organização política criada pelos EUA em que o governo central não é um agente dos Estados que a constituem, é parte de um sistema federal que se estende por toda a União”.

Ante a essa proposta, Mourão enumera a “usurpação das prerrogativas do Poder Executivo” na sequência, com críticas diretas ao que o governo classifica como interferências no poder do presidente por “juízes de todas as instâncias e procuradores, que, sem deterem mandatos de autoridade executiva, intentam exercê-la”.

“‘Mitos Estados da Federação, ou não compreenderam bem o seu papel neste regime político, ou, então, têm procedido sem bastante boa fé’, algo que vem custando caro ao País”, citando obra do ex-ministro do STF no início da República, Amaro Cavalcanti.

Para finalizar, Mourão remonta à ditadura militar para lançar sua proposta de “Brasil: Ame ou deixe-o”, criticando “o prejuízo à imagem do Brasil no exterior decorrente das manifestações de personalidades que, tendo exercido funções de relevância em administrações anteriores, por se sentirem desprestigiados ou simplesmente inconformados com o governo democraticamente eleito em outubro de 2018, usam seu prestígio para fazer apressadas ilações e apontar o País ‘como ameaça a si mesmo e aos demais na destruição da Amazônia e no agravamento do aquecimento global’”.

Para ele, uma “acusação leviana que, neste momento crítico, prejudica ainda mais o esforço do governo para enfrentar o desafio que se coloca ao Brasil naquela imensa região, que desconhecem e pela qual jamais fizeram algo de palpável”.

Mourão ditador

Após listar ponto a ponto o que considera as principais falhas de Bolsonaro e as propostas para cada uma delas, Mourão se lança como solução para, ao estilo ditatorial, colocar ordem no País, citando a “catástrofe do desemprego que está no horizonte”.

“Há tempo para reverter o desastre”, aponta o vice-presidente mirando a cadeira de Bolsonaro. “Basta que se respeitem os limites e as responsabilidades das autoridades legalmente constituídas”. Faltou apenas dizer que essa autoridade “sou eu”.

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