A nova realidade e a nova história do Programa Espacial Brasileiro
A nova realidade e a nova história do Programa Espacial Brasileiro

A nova realidade e a nova história do Programa Espacial Brasileiro

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações – MCTI postou em seu canal do YouTube, em 13 de junho, um novo episódio do programa Ciência é Tudo, da TV Brasil. Este episódio é dedicado ao programa Constelação Catarina, iniciativa recente da Agência Espacial Brasileira – AEB, em parceria com instituições do estado de Santa Catarina.

O episódio é dividido em duas partes. A primeira parte aborda o tema do título – a Constelação Catarina – apresentando sua missão de coleta de dados ambientais em apoio à defesa civil, à agricultura de precisão e a outros tantos temas das agendas ambiental e energética. Anuncia que ela será atendida por uma constelação de 13 nano satélites produzidos majoritariamente por instituições e empresas localizadas em Santa Catarina.

A novidade da proposta está no modelo de financiamento, baseado em emendas parlamentares, ao contrário do modelo tradicional, baseado no orçamento federal, por iniciativa do próprio Executivo. Neste caso a iniciativa parte da bancada parlamentar daquele estado da região Sul.

Dois aspectos chamam atenção nesta nova proposta da AEB: pode, de fato, uma constelação de nano satélites de coleta de dados ambientais cumprir a missão de dar alertas meteorológicos de curtíssimo prazo, como apresentado no vídeo? Além disso, até que ponto uma iniciativa dependente de emendas de bancada pode dar sustentabilidade a um projeto plurianual que, invariavelmente, ultrapassará os limites temporais de uma legislatura, tornando-se suscetível à reconfiguração das bancadas e das maiorias parlamentares e às prioridades políticas? São perguntas para as quais somente o tempo será capaz de apresentar respostas. Esperemos que, em período de extrema carência de novos projetos para a área espacial, este, voltado para prevenir desastres naturais, não se torne um desastre ele próprio.

A segunda parte do episódio que foi ao ar em 13 de junho trata de temas variados ligados à astronomia e ao programa espacial brasileiro, com uma linha básica voltada a informar sobre os projetos da AEB e à promoção da figura do nosso ministro astronauta.

Ao falar das ações da AEB, a reportagem indica que a agência “opera” em nossos dois centros de lançamento: um em Alcântara/MA e outro em Natal/RN; e que do centro de Alcântara “… o Brasil lançou com sucesso o seu primeiro foguete ao espaço” em 23 de outubro de 2004, um veículo de sondagem VSB-30, não orbital. É fato que o primeiro lançamento deste veículo, que foi desenvolvido em cooperação com a Agência Espacial Alemã – DLR, deu-se naquela data. O que surpreende é o incompreensível esquecimento das três campanhas anteriores, no mesmo Centro de Lançamento de Alcântara, que buscaram, aí sim, lançar satélites utilizando o então VLS-1 – Veículo Lançador de Satélites.

As duas primeiras tentativas de lançamento do VLS-1, em 1997 e 1999, não tiveram sucesso, como é sabido. Também não teve sucesso a campanha de 2003, que terminou em explosão e incêndio na torre de lançamento, resultando na trágica morte de 21 profissionais do Instituto de Aeronáutica e Espaço – IAE/DCTA. A conveniente utilização do termo “sucesso” para caracterizar o lançamento do primeiro VSB-30 não nos parece justificativa plausível para apagar da memória, e da história, o esforço, os dispêndios e, acima de tudo, o sacrifício humano anterior.

Mas o programa não esgota aí suas surpresas. Mais adiante no vídeo, o VLS é citado como projeto corrente, o que não é mais o caso, já que ele foi encerrado e substituído pelo VLM. Pouco depois enumera cooperações internacionais, citando então, entre outras nações, a Ucrânia. Mas, com a denúncia do acordo que estabeleceu a binacional Alcantara Cyclone Space – ACS, qual seria a cooperação ainda em andamento?

Ao final do programa o tema retorna para o Centro de Lançamento de Alcântara, recapitula a história e reafirma ter sido em 2004 seu primeiro lançamento de um foguete nacional. Convenientemente, a história do LVS-1 é novamente esquecida.

Surpreendentemente, toda a história associada ao desenvolvimento, lançamento e operação de satélites, na qual o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE é o protagonista, inexiste nesta nova “versão” do programa espacial brasileiro. O desinformado, que procura alguma informação, ao final continuará ignorando o programa dos Satélites de Coleta de Dados, que colocou dois satélites em órbita, o programa China-Brazil Earth Resources Satellite – CBERS, que lançou seis satélites, sendo que cinco entraram em plena operação e dois ainda permanecem operando e, mais recentemente, o satélite Amazônia-1, ainda em fase de comissionamento, mas já operando com sucesso.

O proposital esquecimento de fracassos e sucessos passados, que são parte da história do programa espacial brasileiro, queiram alguns, ou não, não parece fruto da ignorância ou da desinformação. Estariam os responsáveis já no mundo da Lua, ou atendendo a algum outro propósito desconhecido? Qual seria ele?

Com a palavra a AEB e o MCTI.