Academia Brasileira de Ciências empossa primeira presidente em 106 anos
Academia Brasileira de Ciências empossa primeira presidente em 106 anos

Academia Brasileira de Ciências empossa primeira presidente em 106 anos

Após um hiato de quase três anos sem encontros presenciais, a edição de 2022 da Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências ocorreu entre os dias 3 e 5 de maio, em formato híbrido, com sessões presenciais realizadas no Museu do Amanhã (Rio de Janeiro/RJ).

Na noite do dia 4 de maio foi realizada uma Sessão Solene, que envolveu a entrega do Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia 2022; a concessão, pelo CNPq, de títulos a pesquisadores eméritos e da Menção Especial de Agradecimentos; a diplomação dos novos membros titulares e correspondentes da ABC e a posse da nova Diretoria da Academia Brasileira de Ciências, agora presidida por Helena Nader, a primeira mulher a presidir a ABC em seus 106 anos de existência. A nova Diretoria é composta por oito homens e cinco mulheres, todos grandes cientistas, diversos também nas áreas de pesquisa e nas regiões do Brasil em que atuam.

Para o triênio de 2022 a 2025, a Diretoria eleita está composta da seguinte forma:

Presidente: Helena Bonciani Nader.

Vice-Presidente: Jailson Bittercourt deAndrade.

Vice-Presidentes Regionais

Norte: Adalberto Luis Val

Nordeste e Espírito Santo: Anderson Stevens Leonidas Gomes

Minas e Centro-Oeste: Mercedes Maria da Cunha Bustamante

Rio de Janeiro: Patricia Torres Bozza

São Paulo: Glaucius Oliva

Sul: Ruben George Oliven

Diretores: Alvaro Toubes Prata, Maria Domingues Vargas, Mariangela Hungria, Roberto Lent e Virgílio Augusto Fernandes Almeida.

O destaque da cerimônia foi o pronunciamento da Acadêmica Lucia Mendonça Previato. Disse Lucia que o momento exige muito da ciência, exige muito dos cientistas. Os membros eleitos para a ABC são e serão cobrados por sua liderança, que deve visar a promoção da qualidade científica e o avanço da ciência brasileira, buscando contribuir para a implementação de políticas científicas que diminuam a desigualdade social que atinge a nossa população. Criticou também os organismos públicos do atual governo que demonstraram posições contra a ciência, pois não deram prioridade aos investimentos em ciência, tecnologia, inovação, educação, cultura e saúde, que são os pilares necessários para a prosperidade de um país. Pelo contrário, os cortes de recursos se sucederam. A pesquisadora se perguntou: o que fazer? Respondendo à própria pergunta, argumentou: “Devemos continuar buscando avanços em ciência e inovação, em educação e em proteção ambiental. Continuar mostrando que o apoio governamental e o privado, através do investimento robusto e adequado em ciência, tecnologia, inovação, educação, cultura e saúde, é crucial para a soberania do Brasil e para a redução da desigualdade social”. Por fim, disse que lhe restava plagiar Lygia Fagundes Telles: “Não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos com linha dupla todas as feridas abertas”.

Na sua despedida como presidente da ABC, Luiz Davidovich declarou que, após 18 anos na Diretoria da ABC, sendo nos últimos seis anos na qualidade de presidente, estava se despedindo da função. “Faço-o com a alegria de ter usufruído da companhia de colegas de Diretoria que compartilham ideias e valores. Enfrentamos, juntos e unidos, neste último mandato, desafios de toda ordem: cortes de recursos para a ciência, negação da evidência científica, perseguição de pesquisadores, ataques às universidades públicas e ameaças à democracia. Essa luta conjunta cimentou entre nós uma amizade profunda, acredito que essa convivência mudou cada um de nós”. “Aos jovens, digo e repito que o Brasil possui fantásticas oportunidades, na biodiversidade, nos recursos hídricos, em minérios importantes para a indústria, na estrutura de apoio à pesquisa construída ao longo de décadas, na rede de universidades públicas que concentram mais de 90% das pesquisas realizadas no país”, destacou Davidovich. “Um projeto nacional consistente, com mudança nas atuais agendas econômica e social e investimentos crescentes em ciência, inovação e educação de qualidade, permitirá transformar essas oportunidades em riqueza para toda a população. Esse é o nosso desejo, essa é a nossa luta.” “Passo o bastão da Presidência para a colega Helena Nader com grande alegria e tranquilidade. Como vice-presidente da ABC, ela me brindou com um companheirismo e um apoio fundamental. Já era tempo da ABC ter uma presidente mulher, mas a Helena não foi eleita por isso e sim pelas suas qualidades de cientista, de liderança e de militante da ciência. Tenho certeza de que ela conduzirá a Academia com combatividade, coragem, sabedoria e criatividade.”

Nader foi empossada durante a Reunião Magna da ABC, no Museu do Amanhã (RJ) (ROVENA ROSA/ AGÊNCIA BRASIL)
Nader foi empossada durante a Reunião Magna da ABC, no Museu do Amanhã (RJ) (ROVENA ROSA/ AGÊNCIA BRASIL)

A biomédica Helena Bonciani Nader, eleita na Assembleia Geral Ordinária de 29 de março para presidir a Academia Brasileira de Ciências pelo triênio 2022 – 2025, assumiu a presidência na noite de 4 de maio. Em seu discurso disse esperar que se cumpra a missão final da ABC: ciência e educação para o benefício de todos. “Precisamos mostrar claramente para a sociedade e governos que políticas de educação, ciência, tecnologia e inovação são políticas de Estado e de longo prazo”, ressaltou. Nader lembrou que o desenvolvimento sustentável foi definido pelas Nações Unidas como aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender às suas próprias necessidades. Ressaltou que para que o desenvolvimento sustentável seja alcançado, é fundamental harmonizar os aspectos sociais, econômicos e ambientais, que estão interligados e são cruciais para o bem-estar dos indivíduos e das sociedades. “A ABC entende que todos os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 proposta pela ONU, da qual o Brasil é signatário, envolvem muita ciência e nossa participação nessa agenda é fundamental”, declarou.

A pesquisadora destacou que, de acordo com a ciência, essa talvez seja a última grande chance de transformar nossa história, uma janela de oportunidade única. Isso porque as projeções demográficas das Nações Unidas indicam que, a partir de 2070, a maioria da população brasileira estará com idade igual ou superior a 65 anos. “Temos, então, um período de cerca de 40 anos pela frente na pirâmide demográfica. É urgente investir na educação de qualidade em todos os níveis, para alcançarmos uma sociedade justa e comprometida com os direitos humanos – pacto internacional do qual o Brasil, inclusive, foi um dos primeiros signatários”, observou Nader.

Ela manifestou sua solidariedade às famílias de mais de 664.000 brasileiros que perderam a vida em função da covid-19 e ao povo yanomami, assim como a todos os demais povos indígenas que vêm sofrendo as mais diversas violências e violações de direitos. Alertou que a interlocução da ABC com os diferentes atores deverá ser ampliada, em especial, junto aos diferentes ministérios e parlamento, “pois educação, ciência, tecnologia e inovação são os motores do desenvolvimento sustentável, com inclusão e justiça social, cuidado ambiental, crescimento econômico para todas as brasileiras e todos os brasileiros de forma equânime.

Encerrando a cerimônia, o ministro de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovações, Paulo Alvim, cumprimentou os novos membros e a nova Diretoria da ABC. Em seu discurso Alvim afirmou que todos os presentes naquele evento eram a favor da ciência, “mas temos muito a fazer pela ciência”. Como Alvim é um ministro, ainda que tampão, de um governo negacionista, anticiência e que estrangulou o orçamento do MCTI, seu pronunciamento soou apenas como palavras vazias.