Brasil tem 3º recorde anual de desmatamento registrado sob governo Bolsonaro
Brasil tem 3º recorde anual de desmatamento registrado sob governo Bolsonaro

Brasil tem 3º recorde anual de desmatamento registrado sob governo Bolsonaro

País perde 17 árvores por segundo

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE divulgou, em agosto, os dados do desmatamento, registrados pelo sistema DETER-B, responsável pelos alertas para suporte à fiscalização. Só na Floresta Amazônica, foram mais de 8,5 mil km2 nos últimos 12 meses. É o 3o recorde anual registrado sob o governo Bolsonaro.

O número oficial do INPE para medir a taxa anual de desmatamento por corte raso na Amazônia Legal brasileira é fornecido, desde 1988, pelo projeto PRODES, que trabalha com imagens de melhor resolução espacial capazes de mostrar também os pequenos desmatamentos. Os dados serão confirmados em novembro, quando o INPE divulga a primeira estimativa utilizando as informações do projeto PRODES.

Em julho, o SindCT publicou artigo sobre o 2o recorde de desmatamento do atual governo. Veja aqui

Mesmo sem um número consolidado pelo PRODES, o cenário indicado pelo DETER-B é uma antecipação do resultado preocupante que está por vir, se usarmos, como exemplo, os dados apresentados em 2021, quando o DETER registrou alertas de desmate para 8.780 km2; e os dados do PRODES somaram uma taxa ainda maior, de 13.038 km2.

Segundo Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, em entrevista para a Folha de S.Paulo, os dados dos últimos 12 meses indicam que não podemos descartar uma inédita 4a elevação anual consecutiva do desmatamento na Amazônia. “É mais um número que estarrece, mas não surpreende: o desmatamento fora de controle da Amazônia resulta de uma estratégia meticulosa bem implementada [do atual presidente e seus generais] para desmontar a governança socioambiental no Brasil”, afirmou.

O índice de desmatamento divulgado na última semana é também o terceiro maior índice da série histórica do DETER. Uma taxa oficial de desmatamento acima dos 10.000 km², acumulada em quatro anos consecutivos, coloca o governo de Jair Bolsonaro como o primeiro a ver o desmatamento crescer descontroladamente sob uma única gestão.

O Deter emitiu, durante seis meses, alertas que avisaram que o desmatamento atingia níveis recordes desde 2016. E observando o valor agregado do primeiro semestre, da série histórica do DETER-B, o valor deste ano é o maior da série desde 2016, e corresponde a um crescimento de 1.467 km², ou 58,22%, em relação à média dos anos anteriores.

Os números do DETER trazem um outro dado preocupante, o aumento do desmatamento no estado do Amazonas, que passou a ser o 2o maior desmatador, atrás somente do Pará. Historicamente, o Amazonas era o ator de menor relevância, atrás de Roraima e Mato Grosso.

Além do constante crescimento, o desmatamento atingiu locais até então pouco, ou nada, desmatados. Relatório apresentado pelo Observatório do Clima mostra uma ampliação da fronteira de expansão agrícola para além do arco do desmatamento, penetrando mais na floresta. O desmatamento explodiu em cidades do cerrado em poucos anos e atingiu mais da metade dos municípios de todo o país. O relatório anual produzido pelo MapBiomas, com base apenas nos três primeiros anos do governo Bolsonaro, aponta que 61,2% dos municípios brasileiros tiveram pelo menos um desmatamento detectado.

Carlos Nobre, climatologista, há tempos alerta que a floresta Amazônica está chegando ao ponto de não retorno. Sobre o último resultado apresentado pelo sistema Deter, ele explicou, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, como o desmatamento está “entrando” na floresta.

A floresta evoluiu em milhões e milhões de anos com pouquíssimo fogo porque é muito densa. Ali não entra muito sol e fica tudo úmido. Por isso, se cai um raio, faz pouco fogo. Mas em áreas próximas a pastagens a cena começa a ficar degradada. Quando o pecuarista coloca fogo para renovar o pasto, as chamas pulam para dentro da floresta, e ali, com o solo seco, o incêndio propaga. O tronco de algumas árvores queima e em um ou dois anos elas morrem. Perdem todas as folhas. O sol entra mais nesse canto de mata e seca mais o solo. E assim a coisa vai.” “Esse é um processo que auxilia na degradação da floresta ao longo de 15 ou 20 anos”, diz Nobre. A Amazônia vai ficando mais vulnerável.”Veja matéria completa aqui

Ainda de acordo com o MapBiomas, “a área média de cada desmatamento cresceu, o que indica uma maior ousadia nas ações. Ficaram mais frequentes, por exemplo, os grandes desmatamentos — com mais de cem hectares. Houve um aumento de 43,5% na quantidade desses alertas entre 2019 e 2021. Eles representavam 44,2% do total desmatado no país em 2019, passaram para 46,6% em 2020 e para 51,7% em 2021. Além disso, a velocidade de desmatamento também aumentou. Passou de, em média, 139 hectares por hora em 2019 para 189 ha/h em 2021.”

A pesquisadora Ane Alencar, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – Ipam, que coordena o monitoramento do cerrado para o MapBiomas, atribui o crescimento do desmatamento ao “desmonte ambiental, às mudanças na legislação e ao enfraquecimento dos órgãos de controle”.

O Monitor da Floresta do PlenaMata realiza estimativas em tempo real, com base nos dados do INPE, e apontam recorde do desmatamento nos primeiros sete meses do ano. No site, é possível ver um contador, em tempo real, da derrubada de árvores no Brasil.

O contador utiliza como base os alertas diários de áreas desmatadas do DETER e multiplica pela quantidade média de árvores estimada pela ciência para cada hectare de floresta na Bacia Amazônica, que é de 565 árvores por hectare — número obtido de um amplo estudo publicado em 2013, realizado por mais de 100 cientistas.

Como os alertas do Deter são divulgados semana a semana, o contador inclui uma estimativa em tempo real de quantas árvores estão caindo até o presente momento.”

De acordo com o contador, mais de 300 milhões de árvores foram derrubadas na Amazônia brasileira entre 1º janeiro e 10 de agosto de 2022. Foram perdidas mais de 1,4 milhão de árvores por dia, uma média de 1.024 a cada minuto, ou 17 a cada segundo.

Para Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, o número de 300 milhões de árvores derrubadas representa um “genocídio ecológico”.

Essas derrubadas também trazem a violência, a invasão de terras, a criminalidade, a ilegalidade, e isso atinge diretamente as populações que vivem na floresta, como indígenas, ribeirinhos e quilombolas. Então, muitas vezes, o corte de árvores vem acompanhado também do corte de vidas”, afirma o secretário.

ÁRVORES DERRUBADAS ENTRE JANEIRO E AGOSTO DE 2022

Amazonas: 95,8 milhões de árvores

Pará: 89,5 milhões de árvores

Mato Grosso: 59 milhões de árvores

Rondônia: 41,6 milhões

Acre: 10,5 milhões de árvores

Roraima: 4,8 milhões de árvores

Maranhão: 2,6 milhões de árvores

Tocantins: 302,6 mil árvores

A derrubada da floresta acaba sendo mais facilitada com a diminuição das chuvas e as queimadas. Outro fator que também contribui para a tendência de alta é a realização das eleições, quando, historicamente, as ações de fiscalização costumam diminuir”, informa Bianca Santos, pesquisadora do Imazon. Com essa análise, o cenário que se aproxima pode ser pior do que o visto em 2021.

O desmatamento na floresta amazônica tem impacto direto no clima na Terra, principalmente no que se refere ao estoque de dióxido de carbono (CO2), um dos gases responsáveis pelo efeito estufa e pelo aquecimento global.

Um estudo liderado pela pesquisadora do INPE Luciana Gatti e publicado em julho de 2021 na revista científica Nature aponta que o lado leste da Amazônia tem perdido a função de reter o gás carbônico.

A pesquisa, uma das mais completas sobre o assunto, apurou a concentração de CO2 em diferentes regiões da Amazônia entre 2010 e 2018 e mostrou que o nordeste e sudeste da floresta, os mais desmatados e queimados, já emitem mais dióxido de carbono do que absorvem, ou seja, tornaram-se fontes de emissão de CO2.

Catastrófico.” É assim que a pesquisadora Luciana Gatti, definiu o cenário atual da Amazônia brasileira em entrevista para o site InfoAmazonia. Após quase uma década de estudos ao lado de 18 colaboradores, ela descobriu que a maior floresta do mundo não só tem perdido a capacidade de capturar dióxido de carbono, como passou a ser fonte de emissão do gás responsável pelo aquecimento global.

Leia a entrevista completa aqui

Projeto do governo não consegue combater desmatamento

O governo federal lançou, em março, uma operação chamada “Guardiões do Bioma”. Nos três primeiros meses de atuação do projeto houve recorde de desmatamento e aumento do número de queimadas.

Em junho, o governo lançou a segunda edição do programa, com encerramento previsto para janeiro de 2023, ao custo de R$ 170 milhões (fonte: https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/guardioes-do-bioma-reduz-o-desmatamento-em-21-42-em-areas-mapeadas-de-quatro-estados).

A área de atuação dos “Guardiões do Bioma” compreende 15 estados: Acre, Amazonas, Amapá, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rondônia, Roraima, Rio Grande do Sul e Tocantins.

Câmara Consultiva Temática

Em junho, o Governo Bolsonaro criou uma “Câmara Consultiva Temática”, com o objetivo de qualificar o que pode ser enquadrado como desmatamento e incêndio florestal.

A Câmara é composta por membros dos ministérios do Meio Ambiente, Agricultura, Defesa, Economia e Justiça. Nenhum deles atua no monitoramento dos biomas!

Estranhamente, o Ministério da Ciência e Tecnologia, ao qual é subordinado o INPE, não faz parte de tal Câmara.

O SindCT solicita, desde julho, informações sobre a criação da Câmara Consultiva, os nomes dos membros que a compõem, quais trabalhos foram iniciados e qual a posição da Câmara sobre os dados divulgados pelo Sistema Deter.

Todos os Ministérios consultados (todos os que compõem a Câmara) responderam que apenas o Ministério do Meio Ambiente – MMA pode fornecer informações sobre o tema.

Já o MMA, na manhã de terça (16/08), se limitou a responder que a Câmara foi criada e quais ministérios a compõem.

Um detalhe importante na mensagem recebida: o INPE não foi citado no e-mail e, assim sendo, não é possível saber se o representante do MCTI é membro do INPE.

Autor

  • Fernanda Soares é jornalista profissional, formada há 25 anos. É responsável pelas publicações Rapidinha, Jornal do SindCT e pelo canal WebTVSindCT. Em 2012 recebeu o prêmio Beth Lobo de Direitos Humanos das Mulheres, oferecido pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, por sua cobertura da desocupação do Pinheirinho. É autora do livro “A solução Brasileira - História do Desenvolvimento do Motor a álcool no Brasil”, publicado e distribuído pelo SindCT, de nove livros paradidáticos infantis, da editora Todolivro, e do recém-lançado "Tudo o que você sempre quis saber sobre a urna eletrônica brasileira", publicado pelo SindCT. Em julho de 2022, Fernanda ofereceu, gratuitamente, os direitos autorais do livro sobre a urna eletrônica ao TSE.