Monitoramento ambiental e meteorológico no Brasil em crise
Monitoramento ambiental e meteorológico no Brasil em crise

Monitoramento ambiental e meteorológico no Brasil em crise

Nesta semana, o Diretor do CEMADEN, Oswaldo Moraes, veio a público falar que estações meteorológicas, com valor estimado de 100 mil reais cada uma, estão guardadas na instituição, aguardando verbas para serem instaladas, desde 2014.

As estações são utilizadas para monitoramento do nível de rios e da precipitação (com pluviômetro de báscula) e incluem uma câmera fotográfica (webcam), permitindo o registro fotográfico em tempo real da situação do rio, principalmente no que diz respeito a enxurradas, erosão de margens e alagamento do núcleo urbano.

As estações auxiliariam no monitoramento de micro e pequenas bacias, permitindo estabelecer as cotas de referência do nível do rio e volume de chuva para as áreas de risco onde forem instaladas. Isso também possibilitaria o envio de alertas mais precisos e com maior antecedência.

De acordo com um servidor do instituto, “aproximadamente 65% das bacias monitoradas pelo Cemaden são micro e pequenas e necessitam de equipamentos para monitoramento, pois podem apresentar cheias em pouco tempo. Além disso, hoje estão ativas somente 25% das estações fluviométricas instaladas pela instituição. Torna-se árdua a tarefa de antecipar a possibilidade de ocorrência de eventos hidrológicos nesta situação. Contudo, a equipe de monitoramento continua realizando sua missão, pois integra outras fontes de dados, principalmente dados de radar, para o envio antecipado de alertas de risco hidrológico.”

Para que as novas estações meteorológicas possam ser instaladas, o Cemaden necessita de uma verba estimada em R$ 3 milhões. Desde que foi criado, o centro de monitoramento, tem visto seu orçamento anual vem cair ano a ano, tendo tido uma leve recuperação em 2022, quando recebeu pouco mais de 4 milhões a mais do que havia recebido em 2021. Porém, ainda assim, esse recurso é insuficiente para todas as suas necessidades, e menor ainda quando se trata da ampliação do monitoramento.

Essa denúncia traz à tona dois pontos: a importância dos serviços prestados pelo centro de monitoramento e a falta de cobertura de dados ambientais e meteorológicos em território nacional.

Mas, a quem interessa conhecer os dados meteorológicos e ambientais?

Pode parecer estranho aos olhos de um leigo, mas interessa às defesas civis, que em alguns casos contam com medidas locais, de responsabilidade do próprio órgão, interessa também ao setor agropecuário, à aviação, à saúde e a diversos outros setores que necessitam dessas informações para seu bom funcionamento.

Interessa, assim, à sociedade em geral e, em especial às pessoas que vivem em áreas de risco, onde o volume de chuvas é capaz de causar um escorregamento na região. De posse das informações coletadas, o Cemaden, por exemplo, encaminha alertas ao Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres – Cenad, que, por sua vez, aciona a Defesa Civil da região afetada, que providencia a evacuação das áreas de risco, evitando assim, perdas humanas e materiais.

Interessa ao setor agrícola, porque o manejo das culturas depende diretamente da quantidade de radiação solar, das chuvas, dos ventos e da temperatura. Assim também interessa à gestão pecuária, já que o clima pode impactar a produção leiteira e a engorda dos rebanhos. Menos agrotóxicos podem ser utilizados, maior produtividade pode ser alcançada, menos perdas e menor valor despendido pelo consumidor final de alimentos em geral e carnes.

Interessa também ao setor de aviação. Atualmente é mantida uma rede de dados em aeroportos, mas apenas isso é suficiente? O proprietário ou usuário de aviões menores tem acesso a dados locais de vento, chuva e nebulosidade? Quantos acidentes aéreos podem ser evitados com esse conhecimento?

A saúde e os recursos econômicos inerentes a este setor também são impactados pelo meio ambiente. Quantos novos casos de dengue surgem com a variação do volume de chuvas e variação de temperatura? Como isso impacta o Sistema Único de Saúde e o sistema produtivo do país? As gripes e problemas respiratórios durante os períodos de queda de temperatura e de redução da umidade relativa do ar, como podem impactar as pessoas e o atendimento médico em todo país? Problemas cardiológicos também variam com o gradiente de temperatura ambiental.

Citamos aqui algumas áreas de aplicação dos dados meteorológicos ambientais para expressar, minimamente, a importância do monitoramento por estações de superfície. Redes de monitoramento de órgãos como CEMADEN, ANA, INPE, INMET, demandam expansão a curto prazo.

Vale lembrar que não adianta expandir os pontos monitorados, sem investir na manutenção dessas estações, sem possuir pessoal capacitado para qualificar esses dados e distribuí-los com transparência e confiabilidade.

Sem investimentos, a ciência perde, mas perde muito mais a sociedade!

É do senso comum que as mudanças climáticas afetam e afetarão cada vez mais nossa mesa, nossa saúde e até nossa conta bancária.

Resiliência a essa condição é trabalhar com antecedência, planejando e adaptando-se rapidamente. Urge expandir a rede de estações meteorológicas e ambientais de superfície em todo o território nacional, investir na qualidade dos dados e na manutenção dessa rede.

Porém não basta verba dedicada a instrumentos, mas também concursos e salários atualizados para estabelecer mão de obra especializada e duradoura para tratar dados de suma importância. Não existe modelagem numérica eficaz para fornecer informações meteorológicas mais precisas sem dados de superfície. Não existe previsão de tempo com boa qualidade sem essas informações.