Novo livro sobre Ciências do Mar consolida o papel do INPE na oceanografia brasileira
Novo livro sobre Ciências do Mar consolida o papel do INPE na oceanografia brasileira

Novo livro sobre Ciências do Mar consolida o papel do INPE na oceanografia brasileira

Apesar dos inúmeros cortes de orçamento, há esforços em curso no governo federal para criar mais um instituto de pesquisa no país, dessa vez dedicado ao mar e com o apoio da Marinha do Brasil. O Instituto Nacional do Mar – INMAR está em processo de criação e terá como missão desenvolver e executar projetos operacionais de interesse nacional com o apoio de laboratórios de pesquisa já existentes, muitos em universidades ou em outros órgãos de pesquisa, incluindo o INPE.

Como resposta à crise do acidente de derramamento de óleo no litoral brasileiro que ocorreu no final do ano de 2019, o governo criou e sustenta, através do MCTI, e novamente com o apoio e interesse estratégico da Marinha, o programa Ciência no Mar.

O INPE é uma instituição que esse ano completará 60 anos de existência e, dentre vários aspectos de sua missão ambiental, sempre sustentou o desenvolvimento da pesquisa oceanográfica brasileira, contribuindo para a criação e manutenção de projetos operacionais como o PNBoia – Programa Nacional de Boias e o PIRATA – Prediction and Research Morred Array in the Tropical Atlantic, além de manter pesquisas importantes na Antártica desde a criação do Programa Antártico Brasileiro – PROANTAR. O INPE também detém expertise nas áreas de Oceanografia por Satélites, modelagem numérica dos oceanos e modelagem acoplada oceano-atmosfera.

O livro Fronteiras do Conhecimento em Ciências do Mar, organizado por Paulo Lana e Jorge Castello, dois dos mais importantes expoentes da oceanografia brasileira, lançado em dezembro de 2020, traz em um dos seus capítulos a contribuição dos pesquisadores Ronald Buss e Luciano Pezzi acerca de uma nova tendência no estudo dos oceanos no mundo e que é desenvolvida no INPE através da parceria entre a Divisão de Modelagem Numérica do Sistema Terrestre e a Divisão de Observação da Terra e Geoinformática. O tema do capítulo é o estudo dos processos regionais de interação oceano-atmosfera no Atlântico Sul, e descreve os projetos e métodos de análise que os pesquisadores do INPE utilizam para conhecer melhor o tempo e o clima do Brasil, através do entendimento de como o oceano e a atmosfera interagem nas várias escalas de tempo e espaço.

O tema parece vago, mas é importante lembrar que uma grande parcela da população brasileira vive nas regiões costeiras. Segundo o CENSO 2010 do IBGE, 26,6% da nossa população vive nas regiões litorâneas do Brasil, representando mais de 50 milhões de habitantes. Você, que passa seu fim de semana ou férias na praia, já deve ter percebido, na prática, que o tempo e clima dessas regiões depende diretamente do mar, em várias escalas temporais e espaciais, desde a brisa marinha que muda o regime de ventos entre o dia e a noite, até as características da temperatura da água do mar e correntes marinhas, que variam em escalas sazonais (estações do ano) e interanuais… Também deve saber que as ondas de superfície (swell) dependem diretamente do vento que sopra sobre o mar, muitas vezes em regiões longínquas, de onde o seu efeito, em termos de amplitude e frequência das ondas, é sentido.

Um aspecto importantíssimo, que é tratado no capítulo de autoria dos pesquisadores do INPE, é a tomada de medidas de propriedades físicas simultâneas no oceano e na atmosfera, para que se conheça melhor os processos de interação oceano-atmosfera e as variáveis que são utilizadas para a previsão do tempo e clima no Brasil. Comenta-se também sobre a importância de fenômenos climáticos globais, que ocorrem, na maior parte das vezes, em regiões remotas ao Oceano Atlântico Sul, como a Antártica, e o Oceano Pacífico Tropical, por exemplo, em modular os fenômenos acoplados oceano-atmosfera que ocorrem no litoral brasileiro ou sua vizinhança.

O capítulo descreve também como o trabalho colaborativo entre o INPE, a Marinha do Brasil e as universidades tem trazido conhecimentos importantes e inéditos no mundo, e como novas técnicas de coleta de dados têm sido utilizadas pelo INPE para a melhorar nosso entendimento geral do ambiente marinho que nos cerca. O capítulo consolida o importante papel do INPE frente à oceanografia brasileira e abre portas para futuras colaborações nacionais e internacionais que podem amenizar o contínuo decréscimo das verbas destinadas à pesquisa no Brasil.  

Autor

  • Pesquisador Titular III, lotado na Divisão de Modelagem Numérica do Sistema Terrestre do INPE. Possui graduação em Oceanologia pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG, 1988), mestrado em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 1992) e doutorado em Oceanografia Física pela Universidade de Southampton / National Oceanography Centre, Southampton (NOCS, Reino Unido, 2000).