Sem verbas e sem pessoal, será o INPE capaz de dar continuidade ao projeto CBERS?
Sem verbas e sem pessoal, será o INPE capaz de dar continuidade ao projeto CBERS?

Sem verbas e sem pessoal, será o INPE capaz de dar continuidade ao projeto CBERS?

Aguardando desde 2019, quando o sexto satélite da família CBERS foi lançado e colocado em órbita COM ÊXITO, o Brasil assina agora um novo acordo com a China, dando continuidade ao programa.

O novo satélite, que poderá custar até R$ 750 milhões, chega no momento de o governo federal incentivar a confiabilidade do INPE, muito atacado pelo governo anterior.

A parceria entre o Brasil e a China para a produção dos satélites da família CBERS existe desde o final da década de 80, completando 35 anos em 2023.

Na época do lançamento do programa, o governo chinês traçava diretrizes de desenvolvimento intensivo de vários setores, dentre eles a indústria e a área espacial. Com o emprego de novas tecnologias, os chineses emergiram de duas décadas de isolamento para elevar o nível de suas competências científicas e tecnológicas.

No Brasil, o avanço nos diversos programas de satélites da Missão Espacial Completa Brasileira (MECB) incentivava as pesquisas na área. O interesse em transformar os avanços espaciais em aplicações industriais visava fortalecer a economia interna e facilitar a busca por novos parceiros internacionais que colaborassem neste processo.

A experiência chinesa na construção de satélites e foguetes lançadores tornou-se o grande aliado estratégico para o governo brasileiro. Em contrapartida, o Brasil trazia em sua bagagem a familiaridade com a alta tecnologia e um parque industrial mais moderno que o existente no parceiro.

Apesar de atuar com sucesso nessa parceria, o novo satélite traz, para o INPE, uma certa preocupação.

Até final de fevereiro, o INPE possuía 699 servidores ativos, a maioria em vias de aposentadoria.

Na Engenharia Espacial e no Laboratório de Integração e Testes, o quadro de servidores é crítico para conduzir, a pleno vapor, o novo CBERS (com radares).

Recentemente, foi divulgado que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações conseguiu autorização para abertura de concurso público para repor parte do deficit de servidores da carreira. Das 814 vagas abertas, 114 serão direcionadas ao INPE.

Mesmo com deficit de servidores, o INPE possui condições de conduzir esse processo. O problema da falta de pessoal nas unidades de pesquisa, como o INPE, aparece a longo prazo.

Um servidor público na área de C&T demora alguns anos para adquirir conhecimento e se especializar na área, para desenvolver projetos. Com um quadro de servidores baixo e podendo diminuir ainda mais, todo o conhecimento adquirido durante a parceria Brasil-China pode se perder.

O SindCT, em todas as ocasiões ao longo dos anos, reforça ao governo federal a necessidade da reposição de pessoal antes da vacância do cargo, para que o conhecimento adquirido possa ser transmitido e os novos servidores possam dar continuidade aos projetos desenvolvidos pelas instituições de pesquisa.

Com verbas e pessoal, o INPE teria condições de produzir, sozinho, um satélite como o CBERS. “Primeiro tem que adquirir conhecimento com China, observar, mergulhar no equipamento e, daqui a alguns anos, poder fazer esse tipo de satélite sozinho”, afirma Fernando Morais, presidente do SindCT.

A China não tem medo disso. A China está planejando colocar pessoas em Marte. A China colocou satélites em torno da lua para fazer atividades na face oculta da lua. Um radar do tipo que será utilizado no CBERS, para China, é coisa simples e o Brasil ainda precisa se desenvolver”, completa.

Quando Brasil e China iniciaram a parceria, estavam quase no mesmo patamar, em conhecimento e desenvolvimento de tecnologia. Com o passar dos anos, a China realizou um grande investimento financeiro no setor aeroespacial, enquanto o Brasil sofreu com cortes de verbas e falta de pessoal.

Resultado: a China superou muito o Brasil!

O INPE, assim como as demais Unidades de Pesquisa brasileiras, não tem medo de desafios, de produzir e desenvolver. Faltam verbas e pessoal. Sobra ingerência!

Lutamos para que Ciência e Tecnologia, e principalmente o Setor Aeroespacial, sejam tratados como políticas de estado e não ações de alguns governos.

Além da reposição de pessoal, o SindCT continuará lutando para a valorização do servidor público, a recomposição salarial, melhorias nas condições de trabalho e o retorno de investimentos no setor.