As Mulheres que Mudaram Minha Trajetória: Uma Reflexão no Dia Internacional da Mulher
As Mulheres que Mudaram Minha Trajetória: Uma Reflexão no Dia Internacional da Mulher

As Mulheres que Mudaram Minha Trajetória: Uma Reflexão no Dia Internacional da Mulher

No Dia Internacional da Mulher de 2025, surge uma pergunta essencial: quais mulheres impulsionaram minha jornada? Ao refletir sobre essa questão, percebo que quatro mulheres foram fundamentais na minha trajetória, tanto profissional quanto pessoal. Duas mulheres brancas e duas mulheres negras desempenharam papéis essenciais na minha formação e conquistas. Hoje, compartilho a história de algumas delas e o impacto que tiveram na minha vida.

Minha Avó: A Primeira Grande Influência

A primeira mulher que moldou minha trajetória foi minha avó, Ester Hermínia Piart Guerra. Mulher forte, mãe de doze filhos, ela me criou como sua própria filha. Em uma família branca que evitava reconhecer sua ancestralidade negra, minha existência foi um ponto de ruptura. Meu pai, um homem negro retinto, não era aceito naquele espaço. No entanto, minha avó encontrou uma maneira de me inserir: pelo estudo.

Desde pequena, aprendi que o conhecimento seria minha ferramenta de resistência e ascensão. Notas altas eram minha forma de ser valorizada em meio à branquitude da família. Essa exigência extrema me ensinou disciplina e me impulsionou a buscar independência. Aos 15 anos, ingressei em uma escola interna e, mais tarde, segui meu sonho de estudar engenharia. Minha avó foi a primeira mulher a me dar força para trilhar esse caminho.

Evlyn: A Mentora que Me Acolheu

A segunda mulher que mudou minha trajetória foi a professora Dra. Evlyn de Leão Novo, minha orientadora de doutorado. Conheci Evlyn antes mesmo de ingressar na pós-graduação, quando fui sua professora de espanhol. Naquele período, ela enfrentava uma batalha contra o câncer de mama, mas nunca deixou que isso a impedisse de seguir sua carreira acadêmica. Sua resiliência foi inspiradora.

Quando passei na seleção do doutorado, minha filha tinha apenas quatro meses e eu era uma imigrante sem rede de apoio no Brasil. Evlyn me acolheu, preocupou-se com minha situação financeira e ajudou a garantir uma bolsa de estudos com maior valor para que eu pudesse me dedicar à pesquisa. Compreensiva e solidária, nunca me julgou por levar minha filha bebê para seminários e aulas no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Seu apoio incondicional foi essencial para que eu não desistisse do doutorado, mesmo diante de desafios pessoais e profissionais.

Evlyn estava presente nos momentos de maior exaustão, incentivando-me a seguir em frente. Seu olhar humano e seus abraços acolhedores me deram força quando pensei em desistir. Graças à sua insistência, concluí minha tese dentro do prazo e passei no concurso público para seguir minha carreira como servidora da ciência e tecnologia. Sem essa mulher inspiradora, talvez minha trajetória acadêmica e profissional tivesse sido diferente.

Minhas Filhas: A Inspiração para o Futuro

O Dia Internacional da Mulher é uma data de reflexão, celebração e reconhecimento das trajetórias femininas que transformam o mundo. Para mim, a pergunta “Qual mulher fez a diferença na sua carreira?” traz uma resposta profunda: minhas filhas, Victória e Kênia.

Elas são duas mulheres negras que impulsionam minha carreira e me ensinam diariamente a ser a pessoa que sou. Desde que chegaram ao mundo, trouxeram consigo uma força que nem eu mesma sabia que possuía. Foi com o nascimento de Victória, em 2010, que compreendi minha capacidade de crescimento e resiliência. Defendi minha dissertação de mestrado grávida dela e, quando ela nasceu, percebi que minha jornada estava apenas começando.

A maternidade trouxe um novo sentido para minha vida profissional. Com Victória, veio o entendimento de que eu precisava crescer, garantir um futuro seguro e emocionalmente estável para minha família. Busquei melhores oportunidades, me dediquei ainda mais aos estudos e compreendi que meu sucesso não era apenas meu, mas também delas. Quando Kênia nasceu, em 2019, senti essa força se renovar. Durante a pandemia, confinadas em casa, vi o mundo pelos olhos das minhas filhas e enxerguei os desafios que meninas negras enfrentam desde a infância no Brasil. Não bastava apenas garantir um lar seguro, era preciso lutar para que a sociedade também fosse um espaço acolhedor para elas.

Foi nesse momento que compreendi a importância de ampliar minha atuação. Não se tratava apenas da minha família, mas de todas as crianças negras que crescem sem referências, sem histórias que as representam na escola, sem verem mulheres negras ocupando espaços de poder. Passei a me dedicar à luta antirracista dentro e fora do ambiente acadêmico e profissional.

Não quero que minhas filhas passem pelos mesmos obstáculos que enfrentei. Sei que existem tetos de concreto para mulheres negras, barreiras invisíveis e estruturas que tentam nos limitar. Mas luto para que, quando elas chegarem lá, esses tetos tenham se tornado, pelo menos, de vidro, mais fáceis de quebrar.

Minha carreira é impulsionada por essas mulheres incríveis. Ao olhar para minhas filhas, vejo o futuro. Sei que, assim como fui inspirada por mulheres que vieram antes de mim, estou deixando um legado para que elas possam ir ainda mais longe. Crescer profissionalmente é importante, mas crescer como ser humano, como mulher negra consciente do seu papel na sociedade, é o que realmente faz a diferença.

O Poder das Mulheres em Nossa Jornada

Essas são apenas algumas das mulheres que marcaram minha história, mas suas influências são inestimáveis. O Dia Internacional da Mulher é um momento para reconhecer aquelas que nos impulsionam, que abrem caminhos e que nos ensinam, direta ou indiretamente, que somos capazes de superar qualquer desafio.

Celebrar essas mulheres é também reafirmar nosso compromisso com a equidade e o apoio às próximas gerações. Que possamos continuar nos fortalecendo umas às outras, reconhecendo que o sucesso de uma mulher nunca é solitário, mas construído sobre o legado das que vieram antes de nós.

Autora: Regla Somoza

Revisado pela IA.