Confundindo a tribuna da ONU com o “cercadinho” do Palácio da Alvorada, Bolsonaro sentiu-se à vontade para fazer aquilo que tem feito desde que se instalou na presidência da República: mentir, mentir, mentir. E assim agradar àqueles que ainda o levam a sério.
Após publicar uma foto, onde aparece com sua comitiva jantando na rua por estarem proibidos de entrar em restaurantes, após assumir publicamente não ter sido vacinado, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, envergonhou a nação com seu discurso constrangedor na 76ª sessão da Assembleia Geral da ONU, na última terça-feira (21/09).
Imediatamente após o fim do discurso, toda a imprensa repercutiu negativamente as falas do presidente: Bolsonaro mentiu cinco vezes e distorceu outras 7 informações, conforme foi verificado pelo site UOL Confere (veja matéria completa aqui).
Sobre as ações durante a pandemia, Bolsonaro criticou as medidas restritivas contra pessoas não vacinadas contra a Covid-19, incentivou o uso de medicamentos não comprovados cientificamente para tratamento precoce, criticou governadores e prefeitos que impuseram lockdown e os culpou pela inflação e pelo desemprego no país.
Além disso, Bolsonaro afirmou ter pago 800 dólares de auxílio emergencial aos desempregados e trabalhadores informais, erro já cometido em discursos internacionais e que Bolsonaro insiste em repetir.
No quesito desmatamento e queimadas, assunto no qual o Brasil está sempre em destaque na imprensa, Bolsonaro afirmou que o Brasil reduziu o desmatamento e está fortalecendo o setor ambiental, enquanto, na realidade, retirou recursos do Ministério do Meio Ambiente e ataca órgãos que denunciam o aumento de queimadas e desmatamento, como ocorrido no episódio de demissão do diretor do INPE, Ricardo Galvão.
Ignorando as acusações de propina na compra de vacinas e as acusações de “rachadinha” da sua família, o presidente também afirmou que, desde que assumiu o comando do país não há casos de corrupção no governo.
Sobre as manifestações de 7 de setembro, Bolsonaro afirmou que milhões de pessoas foram às ruas em apoio ao seu governo, enquanto a realidade demonstra, cada vez mais, queda da sua popularidade e aumento das avaliações ruim/péssimo do seu governo.
O discurso do presidente brasileiro foi destacado como vexatório na imprensa mundial. No Brasil, além do UOL, jornais impressos e televisivos rebateram as falas do presidente. O jornal El País analisou o discurso como o fim do governo Bolsonaro:
“O projeto de Bolsonaro já foi derrotado e ele sabe disso, embora não admita. Seu discurso na ONU mostra que ele já jogou a toalha, pois não há lugar para um presidente que jura amor à Constituição enquanto ataca a democracia, a ciência, a Amazônia, a imprensa, e zomba das conquistas coletivas de um mundo que precisa desesperadamente se reerguer depois de padecer com a pandemia. Já não se trata de ideologia. O planeta busca líderes que nos deixem respirar, e Bolsonaro é o oposto. Sufoca a verdade, a justiça, a natureza. Por isso, ele só espera o fim do seu Governo. Até lá, não vai perder nenhuma oportunidade de seguir animando a claque, nem mesmo na ONU. É o jeito de não morrer sozinho, politicamente, num mundo que expurga pessoas como ele de postos de comando.”