Eleição para presidência do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC ocorreu no final de julho
A cientista brasileira, pesquisadora aposentada do INPE, Thelma Krug, participou da disputa pela presidência do IPCC no final de julho. Segunda mais votada, Krug chegou ao segundo turno das eleições, mas perdeu para o escocês James Skea por 69 votos a 90.
Thelma Krug é uma cientista de destaque e com atuação de mais de 21 anos no IPCC, se eleita, teria sido a primeira pessoa representante da América Latina e do Caribe a assumir o cargo, e a primeira mulher.
A candidatura da brasileira foi lançada pelo Ministério das Relações Exteriores brasileiro em abril. Doutora em estatística espacial pela University of Sheffield, na Inglaterra, Krug trabalhou por 37 anos no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, até se aposentar em 2019. O apoio que conseguiu angariar foi expressivo, mas infelizmente o esforço dos países europeus foi ainda maior.
O coordenador de Comunicação e Política Climática do Observatório do Clima, Cláudio Angelo, elogia o esforço brasileiro para emplacar a cientista. “O Brasil investiu pesadamente. Foi uma campanha de lobby internacional grande, e o Itamaraty estava muito ativo tentando ganhar votos”, disse.
O engajamento do Governo do Presidente Lula na campanha para Thelma presidir o IPCC revela uma mudança abissal do Brasil em relação às questões ambientais. A Ciência voltou!
Há até bem pouco tempo vivemos um período obscuro da posição oficial do governo brasileiro, com uma mentalidade negacionista do aquecimento global e das mudanças climáticas; presidente da República criminalizando os servidores públicos que defendiam o meio ambiente e até exonerando o diretor do INPE, Ricardo Galvão; ministro da Ciência e Tecnologia dando vexame e escondendo dados do desmatamento na Amazônia e o próprio Ministro do Meio Ambiente mentindo na COP 26. Sem falar no silêncio do diretor do INPE, que no afã de agradar Bolsonaro e o astronauta, a quem deve seu mandato, nunca defendeu os servidores do INPE que realizaram e realizam trabalho admirável no monitoramento do desmatamento. O diretor do INPE agora posa de progressista e comprometido com a defesa do meio ambiente, pois sabe que não é bem-visto pelo atual governo, causando constrangimento à Ministra e sendo motivo de chacota por parte dos diretores dos outros diretores dos institutos de pesquisa do MCTI.
A cientista brasileira e a sul-africana Debra Roberts foram as primeiras mulheres a se candidatarem à presidência do IPCC, criado em 1988. Além do presidente eleito, também concorreu ao cargo o belga Jean-Pascal Van Ypersele.
O IPCC é considerado um órgão técnico e fortemente blindado contra os interesses políticos. O Painel é formado por cientistas de renome que atuam no estudo das mudanças climáticas, e seus relatórios, publicados em períodos de cinco a sete anos, são usados para basear políticas públicas.
De acordo com o Jornal Correio Brasiliense, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não diminuirá o trabalho para ocupar posições de destaque em órgãos internacionais. E lembra que a escolha de Belém para sediar a COP30, em 2025, foi uma grande vitória para ambição brasileira de liderar as discussões sobre mudanças climáticas.
A votação para o IPCC ocorreu em Nairóbi, no Quênia, da qual participam 195 países. O MRE enviou uma equipe de diplomatas para acompanhar as tratativas, que foi liderada pela secretária-geral, embaixadora Maria Laura da Rocha. A ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, também esteve na capital queniana para cabalar votos a favor de Thelma Krug.
Em evento na embaixada do Brasil em Nairóbi, Marina defendeu a candidatura da brasileira. “Cientista renomada, detentora de vasto conhecimento sobre múltiplos fenômenos relacionados ao tema, a dra. Thelma Krug reúne todas as qualidades imprescindíveis para liderar o IPCC em seu sétimo ciclo de avaliação. Caso eleita, ela será a primeira mulher e a primeira representante da América Latina e Caribe a presidir o IPCC”, enfatizou, antes das eleições.
“Estou honrado e profundamente honrado por ter sido eleito presidente do painel”, disse James Skea. O novo presidente do IPCC declarou, através do Twitter, que irá três prioridades principais:
Garantir a participação e colaboração inclusiva em todas as regiões;
Promover o uso da melhor e mais relevante ciência; e
Maximizar o alcance e o impacto do trabalho do IPCC, por meio do envolvimento com os formuladores de políticas e outras partes interessadas.
Claudio Angelo alerta, porém, que o aspecto político da escolha para a presidência do IPCC não se reflete na gestão do órgão, de natureza técnica. Um dos exemplos é o do cientista indiano Rajendra K. Pachauri, que presidiu o Painel entre 2002 e 2015, eleito, inclusive, com apoio dos Estados Unidos. Sua eleição foi, a princípio, vista com desconfiança, já que era considerado alinhado com os interesses da indústria americana de combustíveis fósseis. Sua condução do Painel, porém, levou a um dos mais importantes relatórios, o de 2007, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz.
“O fato de ter um presidente do mundo desenvolvido não quer dizer, necessariamente, que o IPCC vai seguir esses interesses. É um painel científico. Isso dá para dizer que está na agenda da Europa, do Reino Unido, dos Estados Unidos. Esses países todos têm tecnologia de energia limpa para vender”, salientou.
O SindCT parabeniza a Drª. Thelma Krug pela sua candidatura, por ter alcançado o segundo lugar na eleição do mais importante órgão de atuação sobre mudanças climáticas no mundo, e por todo trabalho desenvolvido ao longo de sua participação no IPCC.
Com informações extraídas de Correio Brasiliense, O Eco e Folha de SP.