“Desmonte da Gestão Ambiental e o aumento do desmatamento no Brasil: o papel do monitoramento e da fiscalização ambiental”
“Desmonte da Gestão Ambiental e o aumento do desmatamento no Brasil: o papel do monitoramento e da fiscalização ambiental”

“Desmonte da Gestão Ambiental e o aumento do desmatamento no Brasil: o papel do monitoramento e da fiscalização ambiental”

Na noite de terça-feira (28/07), o Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial – SindCT, em parceria com a Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente e do PECMA – ASCEMA NACIONAL, realizou um debate com pesquisadores do INPE e do IBAMA (PECMA), com mediação do jornalista ambiental Claudio Angelo, coordenador de Comunicação do Observatório do Clima.

Participaram do debate:

• Lubia Vinhas – ex-Coordenadora Geral de Observação da Terra do INPE

• Antonio Miguel V. Monteiro – Tecnologista Sênior do INPE

• George Porto Ferreira – ex-Coordenador Geral de Monitoramento e Informações Ambientais do IBAMA

• Pedro Ferraz Cruz – geógrafo, Especialista em Geoprocessamento Analista Ambiental

Lubia Vinhas, que recentemente foi exonerada, após a divulgação do aumento do desmatamento da Amazônia, foi incisiva: o dado de desmatamento “não vai ser bonitinho e vai aparecer”.

De acordo com a pesquisadora, o mais difícil para os servidores do INPE é “engolir essa narrativa de ah… o dado é ruim para o Brasil e vocês estão divulgando para a imprensa. Por que não avisa o governo?”.

É bom esclarecer que é prática do INPE, há 30 anos, realizar o monitoramento através de três diferentes sistemas (Deter, TerraClass e PRODES), gerar boletins e encaminhá-los ao governo e aos órgãos de fiscalização. Além disso, os dados são públicos e estão disponíveis no site do INPE para qualquer pessoa acessar.

“Me dói um pouco essa narrativa de que nós estamos jogando contra o governo, estamos dando informação para atrapalhar o governo. Enquanto a única coisa que a gente faz é ser transparente, para que tenhamos credibilidade, para que nosso dado possa ser auditado e usado, como é. E isso baseado na nossa melhor tecnologia, na nossa melhor ciência, na nossa melhor capacidade, e sempre sendo aprimorado”, declarou Vinhas.

Para Miguel Monteiro, toda essa discussão faz parte do desmonte da gestão ambiental. Ele destaca que tanto o INPE, como o IBAMA, são instituições de Estado, não servindo ao governo de plantão. “Essa é uma narrativa que tenta se impor o tempo inteiro, de tentar eliminar a gestão ambiental. São os técnicos hoje que garantem essa gestão ambiental, apesar de tudo,” afirmou.

O tecnologista ainda fez uma denúncia gravíssima, a respeito da reestruturação no INPE: “Hoje, com essa reestruturação, essa verticalização, vai passar a acontecer também a proibição da fala. A coordenação desses sistemas de monitoramento será retirada do INPE.”

Os pesquisadores do IBAMA, que participaram do debate, mencionaram as mudanças na estrutura dos órgãos ligados ao meio ambiente, com a extinção de parte significativa de unidades e conselhos que tratam as questões ambientais.

“Para reduzir o desmatamento, é preciso um plano sério e parar de dar sinais de que nada vai acontecer com quem desmatar”, disse George Ferreira, do IBAMA.

Também foi lembrado do plano de desmonte da C&T, algo que o SindCT e demais entidades representativas das carreiras de C&T têm alertado nos últimos anos. Deste plano, faz parte a falta de reposição de pessoal e o constante corte de verbas, que impede até mesmo a manutenção básica dos prédios.

Autor

  • Fernanda Soares é jornalista profissional formada há 28 anos. Em 2012 recebeu o prêmio Beth Lobo de Direitos Humanos das Mulheres, oferecido pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, por sua cobertura da desocupação do Pinheirinho. É autora do livro “A solução Brasileira - História do Desenvolvimento do Motor a álcool no Brasil”, publicado e distribuído pelo SindCT, de nove livros paradidáticos infantis, da editora Todolivro, e do livro "Tudo o que você sempre quis saber sobre a urna eletrônica brasileira", publicado pelo SindCT. Em julho de 2022, Fernanda ofereceu, gratuitamente, os direitos autorais do livro sobre a urna eletrônica ao TSE. Em 2023, recebeu a Medalha Cassiano Ricardo, oferecido pela Câmara Municipal de São José dos Campos.