João Luiz Filgueiras de Azevedo é servidor de carreira do DCTA (lotado no Instituto de Aeronáutica e Espaço – IAE) e professor colaborador do Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA. De janeiro de 2019 a abril de 2020, foi presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. É pesquisador Nível 1A do CNPq com histórico de atuação na instituição como membro do Comitê de Assessoramento de Engenharias Mecânica, Naval e Oceânica e Aeroespacial por duas vezes, entre 2002 e 2004 e entre 2010 e 2012.
O Prof. João Azevedo graduou-se em Engenharia Aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 1981. Realizou o mestrado em Engenharia Aeronáutica e Astronáutica, na Stanford University, nos Estados Unidos da América, formando-se em 1983. Obteve o título de doutor, também em Engenharia Aeronáutica e Astronáutica, na Stanford University, em 1988.
Trabalha na área de Engenharia Aeroespacial, sendo que seus interesses de pesquisa estão centrados em aerodinâmica e aeroelasticidade, atuando principalmente em aerodinâmica computacional, aerodinâmica não estacionária, aeroelasticidade computacional, CFD, malhas não estruturadas, métodos de alta ordem e modelamento de turbulência.
Foi diretor de Transporte Espacial e Licenciamento da Agência Espacial Brasileira – AEB, de 2004 a 2008, e vice-diretor técnico da Empresa Binacional Alcantara Cyclone Space – ACS, de 2008 a 2009. Antes de assumir a presidência do CNPq, atuava como chefe da Divisão de Aerodinâmica e presidente do Conselho de Assessoramento em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, ambos do IAE.
Leia a entrevista exclusiva para o Jornal do SindCT:
JS: No curto período que pôde ficar na presidência do CNPq, o que o senhor considera que foi sua maior contribuição para a instituição?
Prof. Azevedo: Um dos problemas que se precisa resolver no que se refere a fomento à pesquisa é garantir que haja uma certa estabilidade e, da mesma forma, uma certa previsibilidade no orçamento que a agência vai ter disponível para investir em atividades de pesquisa. Isto, evidentemente, é muito complicado no nosso contexto, uma vez que o orçamento da União é anual e, portanto, rigorosamente falando, não se sabe, a priori, os orçamentos dos anos seguintes. Portanto, começamos uma série de estudos no CNPq sobre possibilidades de trazer recursos outros, além daqueles do orçamento próprio da União, para se poder talvez alcançar uma certa independência em relação a um orçamento do qual não se tem tanto controle assim. Evidentemente, ainda, isto é uma coisa complexa dentro do arcabouço das nossas leis e existem diversas inseguranças jurídicas em se seguir por alguns dos caminhos possíveis e, portanto, não se avançou tanto assim na concretização destas formas auxiliares de se buscar recursos para cumprir a missão do CNPq. Entretanto, espero que a semente tenha sido plantada, no sentido de se, talvez, pensar fora da caixa com relação ao orçamento a ser usado para manter os programas tradicionais de fomento à pesquisa da agência.
JS: Como avalia sua gestão?
Prof. Azevedo: Considerando todas as dificuldades orçamentárias que tivemos, principalmente em 2019, acho que conseguimos fazer o melhor possível, em uma situação bem aquém da ideal. Essencialmente, todas as bolsas que estavam contratadas em 2019 foram honradas e uma parcela substantiva dos recursos de custeio e capital também conseguiu ser honrada. Claro, tivemos que mover recursos do chamado “fomento”, ou seja, custeio e capital, e também uma parcela dos recursos de administração do CNPq, para poder honrar todas as bolsas. Porém, no final, acredito que fizemos o melhor que era possível.
JS: Como o senhor avalia o futuro do CNPq neste governo?
Prof. Azevedo: É muito difícil, neste momento pelo qual estamos passando, o país e o mundo inteiro, fazer qualquer previsão. Por um lado, certamente, o orçamento do CNPq previsto para o ano de 2020 tem aspectos muito melhores que aqueles que foram enfrentados no ano passado. Por exemplo, tem-se orçamento suficiente para honrar todos os compromissos de bolsas que tipicamente são contratadas pelo CNPq ao longo do ano. É verdade que o orçamento, para as rubricas de custeio e capital, tem dificuldades, uma vez que os valores alocados estão muito aquém daqueles usualmente praticados pelo CNPq. Porém, comparado com a situação de 2019, não há dúvida de que a agência está em uma situação consideravelmente melhor. Por outro lado, estamos passando por um momento singular da história do mundo e o Brasil, assim como outros países, tem investido uma quantidade grande de recursos no enfrentamento de toda esta situação causada pela Covid-19. Neste contexto, estou me referindo tanto às questões sanitárias quanto às questões econômicas resultantes do enfrentamento da pandemia. É evidente que esta conta vai ser cobrada uma hora e, portanto, não há como se saber exatamente de quais recursos as agências, como o CNPq, vão efetivamente dispor ao longo do ano e nos próximos exercícios. Por um outro lado, ainda, toda esta questão de enfrentamento da pandemia tem demonstrado, para o público em geral, e não apenas as pessoas diretamente ligadas a ciência e tecnologia, a importância do investimento em ciência. Isso pode levar a uma maior pressão da sociedade para que agências de fomento à pesquisa, como o CNPq, tenham seu papel e, portanto, seu orçamento, reforçados nos próximos anos. Portanto, vejo que há sinais promissores no horizonte, sob o ponto de vista de um apoio maior para atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação, mas há também aspectos que podem ter um impacto muito negativo na capacidade de se dar continuidade ao fomento à pesquisa no país, nos moldes do que vinha sendo feito até então. Como eu falei desde o início, é muito difícil fazer uma previsão neste momento.
Questionado sobre as razões de sua exoneração, o Prof. João Azevedo preferiu não responder.