No dia 15/02 passado o Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações – MCTI, Marcos Pontes, esteve em São José dos Campos e mais uma vez não visitou o INPE, a maior unidade de pesquisas do seu ministério. Não por acaso. Em pouco mais de três anos no comando do MCTI, o Astronauta, como gosta de ser chamado e se vestir, enfrentou várias crises e polêmicas. A primeira foi a saída de Ricardo Galvão da direção do Inpe, depois de o presidente Jair Bolsonaro ter questionado a credibilidade dos dados de desmatamento gerados pelo instituto. Pontes, como ministro, é o responsável pelos minúsculos investimentos em ciência: segundo levantamento do Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, na sua gestão foram investidos os menores valores, em 12 anos, para a área. Em especial, o INPE foi brindado com a sua ineficaz gestão: o orçamento de mais de 200 milhões de reais destinado ao instituto em 2010, está atualmente reduzido a menos de 80 milhões de reais anuais. Se visitasse o INPE, o ministro também teria de responder pelo iminente fim do programa de monitoramento do Cerrado e o reduzido quadro de servidores.
Então, o astronauta preferiu fazer uma visita midiática: ir a um shopping center posar para fotos “instagramáveis” e dar uma entrevista coletiva para a imprensa, onde respondeu às questões muito bem formuladas por jornalistas, da maneira que mais gosta: fazendo a sua autopromoção, delirando sobre vacinas, orçamentos, o governo a que serve com fidelidade canina, a base de Alcântara e outros temas. Vale a pena ler a entrevista publicada por Cristiane Prizibisczki do portal ECO.
Mas, o maior de seus delírios é acreditar que está fazendo uma gestão exemplar, que o credencia a buscar uma cadeira na Câmara dos Deputados na próxima eleição. Não que ele não possa conseguir o seu objetivo, afinal, o seu líder e exemplo político, o presidente Bolsonaro foi eleito com uma credencial bem mais singela, vinte e oito anos no parlamento sem nenhuma ação relevante. Pontes certamente buscará, como outros integrantes do atual governo, uma salvaguarda que o proteja por ter sido coadjuvante destes anos de trevas e anticiência pelos quais passamos, como também fará o ex-ministro Ricardo Salles.
Depois de dizer que o INPE é uma das unidades “mais privilegiadas em termos de orçamento”, Pontes afirmou que o INPE “deu uma moscada” sobre a falta de recursos para monitoramento do Cerrado. Disse ainda: “Isso sempre teve recurso! Eu não sei por que apareceu esse negócio de acabar o monitoramento do Cerrado, acho que o INPE deu uma moscada”. Finalizou com uma afirmação questionável: “O recurso sempre esteve lá na FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), era só uma questão de preencher formulário. Quando eu vi essa notícia, eu falei: ‘ô Clézio, esqueceu como preenche formulário, pô? Pega esse negócio e preenche essa coisa aí!’. Nunca teve problema de orçamento para isso, não”.
Interessante notar o linguajar empregado pelo astronauta. Dizer que o INPE deu uma moscada, em conversa de botequim ou de estrebaria, significa que Clézio de Nardin, diretor do INPE, comeu mosca, ou seja, deixou passar despercebida a oportunidade de conseguir recursos, ou foi ludibriado. Quando um ministro diz que seu subordinado comeu mosca, ou está questionando a sua competência, no mínimo, por desatenção, ou está dizendo que este subordinado está sendo enganado. Afora a deselegância de apontar o dedo para Clézio em público, o ministro também mostra a sua face de oportunista, se isentando de sua responsabilidade no tema em tela. Como já havia feito no episódio da exoneração de Galvão.
Tivesse o diretor do INPE o mínimo de cuidado com a sua imagem e carreira acadêmica, teria já respondido à altura ao astronauta. Calando-se, mantém o cargo, mas mancha mais um pouco a sua biografia, a ponto de ser ridicularizado pelo jornalista ambiental Claudio Angelo, que postou no Twitter: “Como será que se sente o diretor do INPE, que criou corcunda de tanto se abaixar para bajular o astronauta, sendo lançado ao mar tal qual o primeiro estágio de um foguete”?
Foto: Lucas Lacaz