O combate ao desmatamento e às queimadas da Amazônia deixou de ser, enfim, “coisa de comunista”, como classificam e propagam há décadas os fazendeiros, pecuaristas, madeireiros, mineradores e grileiros da região, hoje ainda mais incentivados e protegidos pelo novo governo destruidor das riquezas nacionais.
Essa luta passou a ser também, pelo menos momentaneamente, “coisa de capitalista”. E bota capitalistas nesse jogo! Afinal, a pressão veio agora de grupos de investidores internacionais que detêm simplesmente dezenas de trilhões de dólares para investir em países que passem a levar a sério o verdadeiro desenvolvimento sustentável.
Trata-se daquele tipo de desenvolvimento que, para gerar emprego e renda, não precisa, de maneira alguma, destruir mais florestas, poluir mais rios e mares e massacrar e matar mais as populações tradicionais que, no caso da Amazônia brasileira, são os índios, seringueiros, ribeirinhos e quilombolas, dentre outros povos defensores seculares da maior, mais rica e mais bonita floresta tropical do planeta.
Antes de tudo, é preciso ressaltar que o capitalismo internacional não virou ambientalista por benevolência ou por vontade própria, mas pela crescente e decisiva pressão dos consumidores de todo o mundo, que já deixaram claro que não compram mais, de ninguém, serviços e produtos que venham agregados com destruição ambiental, social e cultural. Eles, os consumidores, já não suportam mais tanta poluição em suas cidades e pelo planeta afora.
Mas a verdade é que, para o bem do Brasil, um dos países mais ricos do mundo, com sol o ano inteiro e a maior extensão de áreas agricultáveis do globo terrestre, a pressão do capitalismo chegou forte e decisiva num país absolutamente desgovernado por um presidente especializado em matar, matar e matar, como já confessou em vídeo, agora conhecido pelo seu povo quase todo já arrependido.
Como vai precisar de dinheiro para reconstruir a economia nacional já em frangalhos na atual e longa pandemia, tanto pela queda no consumo, quanto pelo aumento de gastos para amenizar a tragédia da nova e grave doença, o governo vai ter que ceder diante de tão forte pressão exercida pelo grande tesouro adormecido dos fundos internacionais de investimento. Fundos que, de tão poderosos, já contam, aliás, com o apoio da elite empresarial brasileira, considerada, por alguns estudiosos, como a mais egoísta do planeta, por explorar e viver num dos países mais ricos do mundo, com pobreza e miséria espalhadas por toda a extensão de seu território de tamanho continental. Possivelmente, é a elite causadora do maior paradoxo global.
Por força da atual pressão capitalista, poderemos retardar por mais alguns anos, ou até por décadas, quem sabe, a hecatombe ambiental que aguarda a região mais populosa do Brasil e dos quatro outros países do Cone Sul – Argentina, Uruguai Chile e Paraguai – caso o desmatamento da Amazônia brasileira passe, dos atuais 20%, para 25% de sua extensão. Trata-se do percentual acima do qual, segundo já preveem cientistas do mundo inteiro, a grande floresta amazônica vai deixar de gerar os “rios voadores” que levam as águas das chuvas que caem em parte do centro-oeste, do sudeste e do sul do Brasil, além das chuvas que abastecem de água os quatro países vizinhos.
Que os consumidores do planeta inteiro continuem, enfim, pressionando, lá na ponta, o processo capitalista de destruição da gigantesca floresta que representa o grande diferencial do Brasil diante do mundo, pois carrega consigo um tesouro de riquezas incalculáveis em água, ar, fármacos, cosméticos, ecoturismo e outras áreas do desenvolvimento humano, sem falar no papel essencial que representa para o próprio equilíbrio climático do planeta.