Quem é Natasha Ruiz, a nova servidora do CTI Renato Archer
Quem é Natasha Ruiz, a nova servidora do CTI Renato Archer

Quem é Natasha Ruiz, a nova servidora do CTI Renato Archer

Quem procurar por Natasha Ruiz na plataforma Lattes encontrará informações sobre uma profissional com experiência de quase 30 anos na área de Tecnologia de Informação, com passagens por empresas comerciais, que abriu sua própria empresa, desenvolveu softwares, estruturou equipes de vendas e atendeu centenas de empresas. Desde 2011, Natasha é servidora de carreira do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), antigo Centro de Pesquisas Renato Archer (CENPRA), unidade de pesquisa do MCTIC, com sede em Campinas, SP.

Quem olha a trajetória profissional de Natasha não imagina o quanto foi difícil chegar até aqui. Ela morava em Curitiba, quando começou a trabalhar no CTI. Já estava casada e com um filho. Visando economizar para conseguir visitar a família aos finais de semana, durante nove meses ela dormiu no carro, que ficava estacionado no próprio Centro ou no num posto de gasolina, às margens da rodovia. Todo esse esforço valeu a pena, Natasha continua casada e afirma: “São os amores da minha vida, minha família. E minha esposa é também a minha melhor amiga há 20 anos.” 

Nas horas vagas, Natasha destina seu tempo a descobrir suas raízes, pesquisando sua árvore genealógica. “Minha árvore genealógica vai até o ano 600, sou descendente de Piqueroby e de uns reis da Espanha e da Inglaterra.” A paixão pela genealogia a estimulou a escrever um livro, em parceria com seu filho e sua esposa: ‘Um cara, 6 passaportes’. O ‘cara’ em questão é justamente seu filho e o livro resgata sua história familiar, partindo do seu filho até Ferdinand I, Imperador da Espanha, passando por outros nobres e plebeus. “É um misto de livro de referência, how to e histórias de família”, conta.

Mas Natasha nem sempre foi Natasha. Nascida Rodrigo, não estava totalmente satisfeita consigo mesma. Ela se identificava com um gênero diferente daquele que correspondia ao sexo atribuído no momento do seu nascimento. E, após passar alguns anos em dúvida, em março deste ano iniciou uma árdua caminhada rumo à transição de gênero. Nascia então, oficialmente, Natasha Ruiz. 

A escolha do novo nome veio de sua origem polonesa: “esse é um nome típico da Polônia e foi sugestão da minha esposa. Meu filho deu a palavra final, escolhendo esse nome.” No CTI, as equipes de RH e TI foram muito ágeis na troca de suas credenciais.

Amândio Balcão Filho, ex-presidente do SindCT, foi chefe da Divisão de Segurança de Sistemas de Informação (2010 a 2012), onde Natasha iniciou o trabalho no CTI. Diz ele: “Ela entrou no CTI na Divisão que eu era o chefe, depois ela se tornou chefe da divisão que administra os serviços de TI do CTI. Desde o ano passado dividimos a mesma sala. Ela é competente, trabalhadora e leal”.

Para Victor Mammana, ex-diretor do CTI e atualmente pesquisador do CEMADEN, Natasha é uma excelente profissional: “Tenho um grande entusiasmo pelo trabalho dela. Além do trabalho acadêmico em segurança da informação, ela também faz um excelente trabalho de gestora, gerenciou contratos, um trabalho técnico impecável.”

 Atualmente, Natasha está cursando o Doutorado na Universidade Metropolitana de Londres em Ciência da Computação, School of Computing and Digital Media. Sua tese “Segurança desde a primeira linha de código” é um estudo sobre como ensinar cyber segurança nas universidades britânicas.

Devido à pandemia, Natasha, assim como muitos servidores do CTI, tem trabalhado remotamente. “Como não estive fisicamente na unidade, não sei dizer como será a adaptação. A média de idade lá é muito alta e isso pode influenciar. Os colegas de departamento, virtualmente, têm me dado total apoio. Mas tem vários curiosos que ficam olhando meus perfis, e alguns que simplesmente ignoraram meus e-mails. Os amigos próximos e as pessoas que amo me apoiam. Nenhum de meus colegas de trabalho me viu após a transição. Meus orientadores em Londres me viram e foi completamente natural.”

Há 4 anos, o DCTA também recebeu sua primeira transgênero, Lilian Alessandra, hoje aposentada. Na época Lilian não enfrentou dificuldades de adaptação no trabalho, nem preconceito por parte dos demais servidores. Lilian encaminhou um pedido para a direção do DCTA, para a alteração do nome nas credenciais do instituto. Além da aprovação, o diretor do DCTA convocou uma reunião, com anuência da própria Lílian, para explicar à força de trabalho do DCTA como ela deveria ser tratada e como proceder em sua presença a partir de então, de modo a resguardá-la e também à instituição.

No último mês, a revista Science, uma das mais importantes revistas científicas do mundo, publicou duas cartas de Natasha, ambas reproduzidas no site do SindCT (www.sindct.org.br). Porém, mesmo sendo praxe o CTI divulgar todas as publicações de seus servidores, essas duas cartas foram ignoradas pela instituição. “Eu creio que o meu posicionamento político durante a vida e especialmente no conteúdo específico do texto publicado na Science foi determinante para que o texto não tenha recebido o destaque.”

O SindCT entrou em contato com o CTI, que negou haver censura. Em nota, o CTI informou: “com relação à divulgação da carta na página do CTI na Internet, esclarecemos que o referido site é uma página oficial do Governo Federal e se destina à divulgação de informações institucionais de interesse público e à prestação de serviços à sociedade. Por esse motivo, não são divulgadas opiniões pessoais dos servidores do órgão, como cartas, posts, comentários, ou outros textos de natureza semelhante. A divulgação da publicação de artigos científicos vinculados diretamente à área de atuação do servidor, por outro lado, é feita como forma de dar transparência à sociedade dos trabalhos realizados na instituição, tendo em vista que também são considerados para avaliação da unidade no Termo de Compromisso de Gestão assinado com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Gostaríamos de informar que o CTI fez a avaliação da carta da servidora Natasha Ruiz para divulgação institucional em seu site e foi verificado que o texto não possui DOI associado e, nem possui indexação nas bases científicas que o MCTIC utiliza na contabilização dos indicadores institucionais (IPUB), quesitos mandatórios para a publicação no site institucional”.

Autor

  • Fernanda Soares é jornalista profissional formada há 28 anos. Em 2012 recebeu o prêmio Beth Lobo de Direitos Humanos das Mulheres, oferecido pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, por sua cobertura da desocupação do Pinheirinho. É autora do livro “A solução Brasileira - História do Desenvolvimento do Motor a álcool no Brasil”, publicado e distribuído pelo SindCT, de nove livros paradidáticos infantis, da editora Todolivro, e do livro "Tudo o que você sempre quis saber sobre a urna eletrônica brasileira", publicado pelo SindCT. Em julho de 2022, Fernanda ofereceu, gratuitamente, os direitos autorais do livro sobre a urna eletrônica ao TSE. Em 2023, recebeu a Medalha Cassiano Ricardo, oferecido pela Câmara Municipal de São José dos Campos.