Definitivamente, 2020 não é um bom ano para os trabalhadores da Embraer. Em função da pandemia, a empresa propôs suspensão temporária do contrato de trabalho (layoff) por dois meses, com redução de, no mínimo, 25% do salário.
Em seguida, os trabalhadores viram o acordo Boeing/Embraer ir por água abaixo no final de abril. A proposta de compra, que já era ruim (a norte-americana deteria 80% do setor de aeronaves comerciais, que é o filé mignon da fabricante brasileira) ficou pior. A Embraer investiu centenas de milhões para realizar a separação da fábrica para a venda. Essas despesas causaram grande prejuízo para a empresa. E, após o anúncio do cancelamento do acordo, suas ações despencaram 14%.
Aurélio Valporto, presidente da associação de investidores Abradin e um dos maiores opositores da venda do braço de aviação civil da Embraer à Boeing, afirmou que fabricante brasileira precisará de subsídio estatal para se recuperar.
Porém, todos esses problemas parecem não ter importância quando se trata de reajustar os salários de 29 membros do Conselho de Administração, Conselho Fiscal e Diretoria, que dividirão um total de R$ 69 milhões. Eles próprios definiram o aumento e levaram para aprovação em Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária dos acionistas, no dia 29 de abril. Na votação, o número de abstenções (37.076.495) foi superior ao de aprovação (23.710.259).
“Não há dúvidas de que a Embraer deve explicações aos trabalhadores. A maior parte de seus funcionários tem amargado as perdas salariais. Não é possível que, neste cenário de crise, a fábrica aumente a remuneração dos administradores”, afirma o diretor do Sindicato dos metalúrgicos, André Luis Gonçalves, o Alemão.
A atitude da Embraer é uma clara demonstração de como o capital age durante a crise: é sempre o trabalhador quem perde e paga a conta! Isso não é invenção, é constatação.
O SindCT se solidariza com os trabalhadores da Embraer e com a luta desenvolvida pelo Sindicato dos Metalúrgicos neste momento de crise na saúde e conflitos de austeridade e moralidade.
A Embraer nega o reajuste e informa que os salários da alta cúpula também foram reduzidos.
“A Embraer esclarece que, ao contrário do que foi dito pelo Sindmetal de SJC, houve redução do valor total de remuneração dos administradores no período atual (2020/2021) em relação ao período anterior (2019/2020). Além disso, por conta da crise provocada pela Covid-19, foi aprovada redução de 25% dos honorários dos administradores durante os próximos meses, assim como ocorreu com a liderança da empresa.”