No dia 20 de novembro de 2025, acontece pelo segundo ano, o feriado nacional da Consciência Negra. A data não é uma homenagem vaga. Ela marca o dia da morte de Zumbi dos Palmares, o último líder do Quilombo dos Palmares. É crucial entender que Palmares não foi somente um esconderijo de negros que escaparam da escravidão, mas um projeto de sociedade, um Estado autônomo, multiétnico, que resistiu por quase um século, produzindo vida, cultura e táticas de defesa, fora da lógica escravagista.
Em 2025, o que a luta de Zumbi, por autonomia e território, tem a dizer aos cientistas e tecnologistas do INPE, DCTA, AEB e CEMADEN?
Tudo. O setor de Ciência e Tecnologia, especialmente o aeroespacial, é o “território” estratégico da soberania nacional moderna. O conhecimento produzido nessas instituições é poder bruto. A luta histórica pela equidade racial no Brasil é, fundamentalmente, uma luta por território, como da terra, da política, da economia e, hoje, o do conhecimento estratégico.
A sub-representação gritante de pessoas negras nesses espaços de elite intelectual não é um acaso do destino ou “falta de mérito”. É a continuação de um projeto histórico que nega à população negra o acesso aos espaços de decisão. Como revelou um artigo recente do próprio SindCT, a resistência à implementação da Lei de Cotas (Lei 12.990) foi, por anos, justificada por uma defesa da meritocracia, um discurso que convenientemente ignora os séculos de desigualdade estrutural.
A ciência brasileira precisa de Zumbi. Ela precisa do “aquilombamento”. Um quilombo é um espaço de resistência, mas também de criação. Um INPE, um DCTA ou uma AEB racialmente homogêneos limitam sua própria capacidade de inovar, pois enxergam o mundo e os problemas através de uma única lente. A diversidade racial não é justiça social em oposição à excelência. A diversidade é o motor da excelência.
O aquilombamento moderno acontece na ação sindical quando o SindCT cobra a aplicação da lei e quando cria plataformas de voz como o “Trajetórias Negras na C&T”. Acontece quando o CEMADEN, em um movimento exemplar, cria uma Comissão de Inclusão da Diversidade e Equidade de Gênero e Raça (CIDE) e quando seus servidores sugerem quebrar o ciclo negativo, oferecendo mentoria aos que chegam.
Honrar Zumbi dos Palmares em 2025 não é olhar para o passado, considerando tão somente aspectos históricos pontuais da época. É necessário trazer o debate para nossa realidade atual. Hoje, não há mais correntes físicas, mas existem as invisíveis, ao deparamos com a quase total ausência de negros em ambientes de destaque.
A luta do SindCT por equidade racial não é uma pauta acessória. A diretora do SindCT explica que tratar dessa questão “é garantir que os jovens negros vejam a manifestação física do seu sonho”. A liberdade é conquistada, não concedida, como Zumbi sabia e como a história nos ensina.
Então, fica a reflexão: para que o Brasil avance, é preciso ousar. Quando a Ciência se aquilomba, ela deixa de reproduzir o passado e começa, enfim, a projetar o futuro que Zumbi sonhou.
Por Regla Somoza – Colaborou: Shirley Marciano
