A justificativa do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, para a não divulgação dos dados do desmatamento durante a COP-26 (26a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) foi: “eu estava de férias”.
Entenda o caso.
A COP é uma reunião anual, organizada pelas Nações Unidas, para debater propostas para a desaceleração das mudanças climáticas. A nossa Amazônia recebe mais atenção nessa reunião. Os dados referentes ao desmatamento e às queimadas na região são muito aguardados.
Neste ano, durante a COP-26, o Brasil não apresentou os dados do relatório PRODES, como costumava fazer.
A princípio, usou-se da justificativa de o relatório não estar pronto.
Conforme já divulgamos, a equipe do INPE responsável pela elaboração do relatório do PRODES, encaminhou o documento ao MCTI em 27 de outubro de 2021.
O relatório, sempre enviado de forma pública e acessível a qualquer pessoa por meio do Sistema Eletrônico de Informações do MCTI – SEI, foi, estranhamente, transformado em sigiloso, após o envio.
Já na COP-26, em 10 de novembro, ao discursar sobre o Brasil e o combate ao desmatamento, o Ministro do Meio Ambiente não apresentou os dados do relatório e distorceu informações, conforme mostra matéria realizada pelo UOL CONFERE.
Somente após um grande questionamento da imprensa sobre a informação, o relatório foi apresentado em 18 de novembro. Para o atraso, usou-se a justificativa de “revisão dos dados”, mesmo apresentando o relatório original, datado de 27 de outubro.
Ao ministro Pontes, a TV Globo (veja matéria completa aqui) enviou os seguintes questionamentos:
- O que foi feito com o documento produzido pelo INPE com os dados Prodes, quando recebido (dia 27 de outubro)?
- Quais providências foram tomadas naquele dia?
- Quais autoridades foram avisadas?
- Por qual razão o documento só foi divulgado no dia 18 de novembro?
Sem resposta para as perguntas, o ministro limitou-se a dizer: “Eu estava de férias”!
No dia 27 de outubro, conforme mostra a agenda do Ministro Pontes, ele estava retornando para o Brasil de uma viagem oficial a Dubai. E no dia seguinte, 28 de outubro, participou de evento oficial e concedeu entrevista para a TV Jovem Pan.
O período de férias, ao menos em sua agenda, está marcado de 08 a 19/11/2021, tendo como substituto Sérgio Freitas de Almeida, Secretário-Executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
Ou seja, desde o recebimento do relatório até suas férias oficiais, o ministro Pontes teve 12 dias para ignorar o documento.
De volta às atividades, Pontes e seu governo agora utilizam outra estratégia para minimizar os dados do desmatamento: tentam comparar, erroneamente, os dados do PRODES com os dados do DETER.
Nessa semana, o SindCT já havia alertado sobre essa possibilidade (Veja aqui ).
PRODES e DETER são sistemas diferentes, com ações e objetivos diferentes! Enfatizar aspectos metodológicos relativos aos dois sistemas, DETER e PRODES, é fundamental para a correta interpretação dos dados produzidos por estes sistemas. O DETER se preocupa com a geração de ALERTAS para a fiscalização. O PRODES se preocupa com o inventário anual da perda de cobertura florestal.
O Ministério do Meio Ambiente divulgou uma nota, comparando os sistemas e utilizando informações do sistema DETER para desqualificar o PRODES:
“Os dados de desmatamento do Prodes […], não refletem a atuação do Governo Federal ao longo dos últimos meses. Por outro lado, de acordo com os alertas de desmatamento do Deter/INPE, houve uma reversão do desmatamento acumulado nos períodos de julho a outubro deste ano, com um total de 4.277,32 km². No mesmo período de 2020, o acumulado foi de 4.811,13 km², o que representa uma queda de 11%, resultado de uma ação coordenada do governo federal”.
O site O Eco apresentou uma reportagem na qual explica a diferença dos números (veja aqui)
Ao fim, podemos concluir apenas que, com ou sem férias, de posse das informações corretas sobre o desmatamento no Brasil, o governo Bolsonaro distorce as informações para fingir fazer o que nunca fez: defender o meio ambiente!