Negacionista visita São José dos Campos para palestra sobre Ciência
Negacionista visita São José dos Campos para palestra sobre Ciência

Negacionista visita São José dos Campos para palestra sobre Ciência

Governo teve como marca registrada o obscurantismo

São José dos Campos é um dos principais polos de inovação tecnológica de todo o país, concentrando a maior proporção de trabalhadores em empresas de Ciência e Tecnologia, atingindo mais de 14% do total, sendo a maior taxa do Brasil.

Em São José dos Campos foi instalada a primeira indústria aeronáutica do país, fruto do arrojo e visão nacionalista do Marechal Montenegro. Aqui também foi desenvolvido o motor a álcool, foram instaladas dezenas de fábricas na década de 50, estão localizados importantes institutos de pesquisa, como INPE (com o maior laboratório de integração e testes de satélites do hemisfério sul), CEMADEN e DCTA (com seus institutos subordinados, tais como ITA, IEAv, IFI, IAE). É nas instituições de pesquisa de São José dos Campos que atuam os servidores públicos que junto com as empresas privadas permitiram ao país avanços significativos no setor espacial, projetando e construindo satélites de observação da Terra; foi aqui que foi criado o CPETEC, que, com seu avançado programa de previsão de tempo e clima, permite ao país monitorar seu clima, suas safras e identificar situações de risco climático. Aqui também está localizado o CEMADEN, instituição pública que monitora e emite alertas de desastres naturais.

Também em nossa região, mais precisamente no INPE, foram projetados dois sistemas que são orgulhos para o Brasil: o monitoramento dos biomas brasileiros e a urna eletrônica.

As conquistas de nossas instituições, reconhecidas por toda a comunidade científica, nacional e do exterior, são frutos de investimento público, gestões competentes, dedicação de inúmeros servidores públicos e, sobretudo, baseados na confiança que Ciência, Tecnologia e Inovação podem alavancar o progresso de uma nação.

Em meio a tanta ciência, tecnologia e inovação, orgulhos da cidade, haverá uma aula/palestra, nesta quinta-feira, 18 de agosto, com o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre o tema, em ação de campanha à sua reeleição.

O que o atual presidente tem a falar sobre ciência?

No programa de governo que o elegeu, em 2018, a catástrofe já estava anunciada. Ciência, Tecnologia e Inovação apareceram em apenas 2, das 81 páginas do plano. Os sete parágrafos destinados ao tema não apresentavam propostas efetivas para o setor e não havia explicação de como promover o que era proposto.

Assim como previsto em seu plano, houve, durante seu governo, enfraquecimento da ciência, tecnologia, pesquisa, inovação e educação!

Antes mesmo de sua posse, aquele que seria o ministro do Meio Ambiente, anunciava planos para retirar do INPE o monitoramento dos biomas nacionais. O responsável pelo órgão, o ministro “Astronauta” Marcos Pontes, até se comprometeu a aumentar o orçamento da pasta até o final do seu mandato, mas não o fez.

Em 2019, entrou em vigência o plano de desmonte da C&T no Brasil. Os ataques, que incluem contingenciamento e corte de verbas, atingiram duramente a formação do conhecimento: o CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico entrou o ano de 2019 com déficit e teve ainda 11% de seus recursos contingenciados. Em setembro de 2019 foram suspensos os pagamentos de 84 mil bolsas do CNPq, assim como o processo para seleção de bolsistas no Brasil e no exterior.

No INPE, o diretor Ricardo Galvão foi exonerado do cargo de diretor por cumprir o que seu mandato exigia: apresentar os dados de desmatamento e queimadas no país. Bolsonaro mandou exonerar o diretor após acusá-lo de estar a serviço de alguma ONG e, após o ocorrido, seguiu os anos desacreditando os dados apresentados pelo INPE.

No ano seguinte, a pandemia de Covid trouxe à tona o pior do atual governo: a falta de compaixão pelo ser humano. Seu plano negacionista atingiu a área de saúde, retardou a compra de vacinas, incentivou o uso de medicamentos cientificamente comprovados como ineficazes. Sua ação ocasionou a morte de milhares de brasileiros.

Aliado à pandemia, o governo trouxe mais cortes nos orçamentos. Institutos de Pesquisa não possuíam verbas nem para arcar com despesas básicas. E assim, com sucessivos cortes orçamentários, a C&T tentou sobreviver aos 4 anos do atual governo.

Para driblar a falta de dinheiro, instituições apelaram para o fechamento de laboratórios e salas. radio fármacos, indispensáveis para o tratamento de câncer, quase deixaram de ser produzidos. Os servidores públicos que puderam, se aposentaram, interrompendo pesquisas.

Não houve reposição de pessoal.

Não houve reposição salarial.

Não houve reposição orçamentária.

Nesta quinta-feira, quando Bolsonaro estava proferindo a sua “aula” em São José dos Campos, em seus ouvidos ainda deviam estar martelando as duras palavras proferidas pelo Ministro Alexandre Moraes, que no dia 16/8, ao assumir a Presidência do TSE, afirmou categoricamente que as urnas eletrônicas e o sistema de votação eletrônico brasileiro são seguros, confiáveis e exemplo de tecnologia para o mundo inteiro.

Bolsonaro visitou o Cemaden, o Parque Tecnológico e o CSI (um sistema de monitoramento por câmeras instaladas na cidade que permite o reconhecimento facial e, com isso, a localização de pessoas procuradas pela justiça).

A aula que deveria proferir foi substituída por um discurso raso, de frases prontas. Sobre ciência, contrariando tudo o que fez durante o seu mandato, se limitou a dizer que “o país que não investe em ciência e tecnologia está condenado a ser escravizado por outro país”, ignorando que seu governo foi o que menos investiu na área!

Na Arena Farma Conde, para onde se dirigiu após o evento no Parque Tecnológico, Bolsonaro afirmou que Marcos Pontes, candidato ao Senado, foi o ministro que mais lutou pela Ciência e Tecnologia nacionais. [Pontes foi o 1o ministro a encerrar seu mandato com um orçamento menor do que quando assumiu o ministério!]

O negacionista que fez uso da palavra neste dia 18, poderia, talvez, refletir o quanto errou em seu mandato, avaliar o mal que causou ao país e quem sabe, inspirado no Ministro Marco Antonio Raupp, que dá seu nome ao Auditório que o recebeu, possa finalmente entender que Ciência não é crença que possa ser manipulada com fake news, é trabalho, é construção, é investimento e dedicação de homens e mulheres que, mais que uma crença, têm compromisso com a verdade.