Incêndio em área verde do INPE atinge grandes proporções
Incêndio em área verde do INPE atinge grandes proporções

Incêndio em área verde do INPE atinge grandes proporções

A unidade de Cachoeira Paulista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, completou 50 anos no dia 22 de setembro. Em meio à crise financeira, sem recursos para pesquisas, contratação de pessoal e manutenção de equipamentos, o instituto sofreu com um incêndio de grandes proporções que consumiu praticamente toda sua área verde no último domingo.

O fogo teve início, por volta das 13h, numa área próxima ao INPE e, durante 17 horas, queimou mais de 10 mil metros quadrados de mata.

Por não possuir brigadistas na instituição, o corpo de bombeiros das cidades de Guaratinguetá, Lorena e Cruzeiro foram acionados e realizaram medidas de contenção, para que o fogo não chegasse aos prédios.

Infelizmente, o INPE possui equipamentos instalados na zona de mata, como radares e estações meteorológicas. Os servidores relataram que o fogo destruiu uma estação meteorológica utilizada pelo CPTEC e boias do projeto PIRATA, uma rede multinacional de observações, estabelecida para melhorar o conhecimento e compreensão das variabilidades das interações oceano-atmosfera na região do Atlântico Tropical.

Uma outra estação, utilizada pelo CEMADEN, teve seu funcionamento interrompido. O SindCT tentou contatar a instituição para saber se a estação foi comprometida pelo fogo ou se houve algum problema técnico, mas não obteve retorno.

O INPE ainda não contabilizou todos os danos causados pelo incêndio.

Devido à fumaça densa, dez servidores, que trabalhavam no INPE no momento do incêndio, foram dispensados.

O problema de incêndios no INPE de Cachoeira Paulista é recorrente e a sua prevenção não é feita de forma adequada. A culpa pela falta de manutenção não é exclusividade da administração, carrega também um “dedinho” da Consultoria Jurídica da União – CJU.

A CJU não autoriza a contratação de brigadistas alocados no INPE, mesmo sabendo que Cachoeira Paulista não tem Corpo de Bombeiros. Uma comitiva da CJU visitou a unidade do INPE em Cachoeira Paulista, há poucos anos, para verificar in loco o perigo da situação. De acordo com um servidor que não quis ser identificado, essa visita “de nada adiantou, voltaram fazendo comentários desabonadores sobre como os servidores do INPE de Cachoeira Paulista atuam e sobre os trabalhos de pesquisa lá desenvolvidos”.

As queimadas que ocorrem no campus do INPE em Cachoeira Paulista são, em grande parte, provocadas por fazendeiros vizinhos, ou mesmo por transeuntes que passam pelas estradas que margeiam a área. Por isso, é essencial manter um acero bem feito, ou seja, manter uma área limpa com trilha de proteção contra o fogo em volta de todo o terreno da instituição e manter uma vigilância constante.

O INPE de Cachoeira Paulista, assim como todas as instituições de pesquisa no país, sofre também com a falta de verbas para manutenção e limpeza. Nos últimos anos, a situação tem se agravado e a instituição só consegue realizar contratos de emergência (sem licitação) para limpeza dos prédios.

Através de sua conta oficial no Twitter, o INPE havia tentado minimizar o dano, dizendo que se tratava de um “pequeno incêndio”:

Twitter INPE sobre o incêndio florestal no campus de Cachoeira Paulista
Twitter INPE sobre o incêndio florestal no campus de Cachoeira Paulista

A postagem no Twitter foi apagada momentos depois.

Em nota publicada no dia 29 de setembro, o INPE informou que sua equipe de vigilância já havia detectado a presença de fogo às 11h40, mas que devido à vegetação extremamente seca, alta temperatura e baixa umidade do ar, além de ventos fortes, a equipe não conseguiu controlar o fogo que se alastrou rapidamente. Diz ainda a nota:

Infelizmente a situação agravou-se e, apesar da intensa atuação das equipes que trabalhavam no local, aproximadamente 70 % do campus foi atingido diretamente pelo fogo, incluindo o entorno dos laboratórios Sonda, Lume, BDA – Arranjo Decimétrico Brasileiro (aqui tendo ocorrido sinistro de algumas antenas de pesquisa), do LIM – Laboratório de Instrumentação Meteorológica (aqui perdemos para o fogo 4 toróides das bóias oceânicas do Projeto PIRATA e vários instrumentos meteorológicos), além do entorno da sede do CPTEC, do alojamento do campus, do Laboratório de Combustão e Propulsão, e outros locais.

Importante ressaltar que todo controle e proteção foram feitos adequadamente nas instalações prediais e redes de fibra óptica. Não ocorreram danos físicos ao patrimônio público, exceto por linhas aéreas e terrestres de transmissão de energia, já em processo de recuperação das funcionalidades.”

(…)

O INPE e o MCTI lamentam profundamente o ocorrido. Estamos envidando todos os esforços para remediar a situação ambiental decorrente, assim como a continuidade dos programas de coleta de dados prejudicados pelo evento. O Coordenador Nacional do projeto PIRATA, Ronald Buss de Souza, reporta que o projeto, mesmo com o prejuízo apontado, não foi afetado e a continuidade dos esforços de observação de parâmetros de interação oceano-atmosfera do Oceano Atlântico Tropical está garantida.”

A assessoria de imprensa do INPE informou ao SindCT que a instituição tem uma empresa contratada para os serviços de limpeza da área externa (no entorno dos prédios), mas que o incêndio ocorreu em área de reflorestamento, onde não pode ser realizada essa limpeza.

Há alguns meses, um servidor aposentado, que continua trabalhando no INPE como voluntário, pagou para a realização de limpeza do mato no entorno de um prédio que abriga um equipamento avaliado em US$ 1 milhão, aproximadamente, que precisava de manutenção. De acordo com um pesquisador que conversou com o Jornal do SindCT, o servidor aposentado decidiu realizar o pagamento da limpeza da área porque o INPE não possuía previsão de quando retornariam os serviços de jardinagem.

Importante ressaltar que, se o serviço de limpeza não ocorreu da forma como deveria, a empresa contratada não cumpriu o acordado ou o fiscal do contrato não cumpriu sua missão.

O INPE informou também que “após a contenção do incêndio, foi aberto inquérito interno e todas as providências legais com respeito à investigação da origem do incêndio estão sendo conduzidas pelas autoridades e órgãos responsáveis.”

Clique aqui e veja fotos e vídeos do incêndio na Rapidinha 15

Autor

  • Fernanda Soares é jornalista profissional formada há 28 anos. Em 2012 recebeu o prêmio Beth Lobo de Direitos Humanos das Mulheres, oferecido pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, por sua cobertura da desocupação do Pinheirinho. É autora do livro “A solução Brasileira - História do Desenvolvimento do Motor a álcool no Brasil”, publicado e distribuído pelo SindCT, de nove livros paradidáticos infantis, da editora Todolivro, e do livro "Tudo o que você sempre quis saber sobre a urna eletrônica brasileira", publicado pelo SindCT. Em julho de 2022, Fernanda ofereceu, gratuitamente, os direitos autorais do livro sobre a urna eletrônica ao TSE. Em 2023, recebeu a Medalha Cassiano Ricardo, oferecido pela Câmara Municipal de São José dos Campos.