Sem verba para adquirir um novo supercomputador e com a máquina com vida útil próxima do fim, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) planeja substituir o equipamento por dois computadores de menor porte. O supercomputador é o principal responsável pelos dados de previsão do tempo.
Segundo o novo diretor do Inpe, Clezio de Nardin, o equipamento tem mais um ano de funcionamento e a medida é uma alternativa provisória até conseguir a compra de um novo supercomputador.
O Tupã opera desde 2010, quando foi comprado por US$ 23 milhões, e já foi o mais rápido da América Latina. Ele foi adquirido para o avanço na previsão do tempo e nas pesquisas e avanços nos modelos numéricos de previsão, que tornariam os dados do Inpe mais eficazes.
Com o passar do anos, a máquina ficou obsoleta e chegou a parar de funcionar em 2017. De forma emergencial, o instituto conseguiu uma atualização que gerou ‘sobrevida’ à máquina, mas que novamente se aproxima do vencimento.
Desde a gestão de Ricardo Galvão, diretor exonerado, o Inpe tenta a compra de uma nova máquina, mas os cortes recorrentes de orçamento impossibilitaram a atualização.
Em entrevista ao G1 após a posse, Clezio de Nardin explicou que levou ao Ministério da Ciência e Tecnologia uma nova possibilidade, que traria atualização, mas com custo menor.
“Propus o trabalho com máquinas menores. A gente teria que mudar o código para a leitura para ocupar mais espaço, mas eles teriam a mesma eficiência. Isso bastaria porque a supermáquina é mais cara, mas você também tem o custo de infraestrutura para receber, além de consumo de energia”, conta.
Alternativa provisória
Clézio reconheceu que a decisão da compra de máquinas de porte menor é por falta de orçamento, mas alega que seria possível que, ainda que sendo máquinas de menor potencial, atendessem a demanda do instituto.
“Essas máquinas têm vida útil de cinco anos e aí até 2025 temos prazo para criar condições para um supercomputador novo. Pode ser que duas máquinas menores atendam a demanda. Mas uma coisa é atender as demandas de hoje por cinco anos, outra é a atualização dos nossos modelos de monitoramento. Vamos ver se ela atende essa expansão”, completou.
A expectativa do novo diretor é de que a compra seja feita até o final do ano, para a troca em 2021. Apesar disso, não havia ainda uma resposta do ministério com relação ao investimento. O G1 procurou o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) e aguardava retorno até a publicação da reportagem.
Aquisição seria nova “sobrevida”
O coordenador do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), Gilvan Sampaio, explica que a medida é uma nova ‘sobrevida’. De acordo com Gilvan a supermáquina hoje opera em duas frentes: a previsão do tempo e a pesquisa.
Para a previsão, a máquina roda um modelo numérico a cada seis horas. Enquanto isso, ela também opera a pesquisa, que são códigos para melhorar a capacidade desses dados, como um modelo que aumente a resolução de imagem.
Atualmente, as operações de pesquisa são feitas na máquina de 2010 e as de previsão na atualização de 2018, que tem dois anos de vida ativa ainda. A importância de uma supermáquina, segundo Sampaio, é manter a capacidade de pesquisa, que é o que faz com que os dados produzidos pelo Cptec sejam competitivos.
“Não é como se tivéssemos uma supermáquina. Com isso, o desenvolvimento é feito com menor rapidez, em função da capacidade da máquina”, explica.
Gilvan ainda reforçou que a medida tem prazo determinado até a aquisição, de fato, de um supercomputador. “A ideia é que isso possa dar uma sobrevida. A expectativa é de três anos e aí com calma a gente vai reformulando a nossa estrutura para poder ter esse novo supercomputador de novo”.
Remendo
Para Maria Assunção Faus da Silva Dias, que foi coordenadora do Cptec à época da aquisição do supercomputador, o “remendo” é um retrocesso.
“Previsão é um produto e se o seu não é bom, as pessoas procuram outro. Para entrar na corrida você precisa de um salto de qualidade. O investimento que precisa ser feito é para sermos competitivo internacionalmente”, comenta.
Ela conta que hoje dá consultoria sobre meteorologia para empresas do setor privado e que elas já têm escolhido por dados internacionais, como do Centro Europeu. E a aquisição de uma “máquina modesta” é perder a chance de retomar o pioneirismo que o Brasil já teve.
“Uma máquina de segunda geração não consegue rodar a previsão como os outros centros. Você ainda está vendo se vai chover e aí já choveu. A previsão tem uma janela de tempo para ser rodada para ser útil e uma máquina desatualizada, faz com que ela não seja útil”.
Assunção foi coordenadora do Cptec por seis anos. Ela define o caminho para aquisição da máquina como uma batalha.
“O governo não pensa a longo prazo, já contando que vai precisar atualizar porque a tecnologia muda e se atualiza. O coordenador tem que se desdobrar para explicar o porquê precisa de uma nova máquina. Você gasta 80% do seu tempo como gestor para conseguir o próximo supercomputador”, conta.
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