Entidades, parlamentares e especialistas repudiam dados do Instituto Millenium
Entidades, parlamentares e especialistas repudiam dados do Instituto Millenium

Entidades, parlamentares e especialistas repudiam dados do Instituto Millenium

A pirâmide salarial do funcionalismo
A pirâmide salarial do funcionalismo

Gráfico: Reprodução/Renata Buono/Revista Piauí

Condsef/Fenadsef

Os números inconsistentes sobre funcionalismo público e investimentos sociais apresentados pelo Instituto Millenium, divulgados pelo Jornal Nacional na segunda-feira, 10, repercutiram no debate público. Entidades, parlamentares e especialistas repudiaram os dados e reforçaram estatísticas que se contrapõem ao estudo da empresa que tem o ministro Paulo Guedes entre seus fundadores. Para a oposição, é clara a intenção de desinformar a população brasileira para construir apoio alienado à proposta de reforma administrativa e privatizações que o governo quer executar.

A Condsef/Fenadsef divulgou nota sobre o caso. A Internacional dos Serviços Públicos (ISP) também contestou a reportagem. Em vídeo, o Secretário-geral da Confederação, Sérgio Ronaldo da Silva, afirmou que os dados são fictícios, pois misturam categorias e esferas distintas. O objetivo, para ele, é criar confusão para jogar a população contra servidores públicos, que estão engajados na linha de frente de combate à pandemia do novo coronavírus.

Sérgio reforça que a categoria de servidores públicos da União está sucateada, com salários congelados há mais de três anos, sem investimentos em estrutura e com centenas de cargos vagos, que não vislumbram concursos de reposição por vetos do presidente da República, Jair Bolsonaro. Apresentando a realidade como ela é, o dirigente sindical derruba os argumentos do Instituto Millenium. Assista:

O presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público, Professor Israel Batista (PV-DF), também se pronunciou, destacando incorreções do estudo com relação ao funcionalismo público. Para o deputado federal, gastos com Saúde e Educação envolvem necessariamente despesa com pessoal. O parlamentar reforça o dado do Atlas do Estado Brasileiro, realizado pelo Ipea, que mostra que a quantidade de servidores federais é a mesma há trinta anos, apesar do aumento populacional. 

“Não podemos nos basear em informações distorcidas. Precisamos buscar o aperfeiçoamento do serviço público, buscando melhoria do atendimento à população”, disse. Assista:

Na área de Meio Ambiente, a carência de pessoal especializado é uma realidade dura. Em vídeo, o presidente da Ascema Nacional, Denis Rivas, destaca que há, atualmente, cerca de 1.300 vagas sem preenchimento no Instituto Chico Mendes. O Ibama também sofre com o mesmo esvaziamento de pessoal. Para Rivas, é o patrimônio ambiental brasileiro que sofre com isso. 

“Os problemas [ambientais] só serão combatidos com a contratação de novos servidores, para dar resposta aos crimes ambientais que avançam descontroladamente no País”, afirma. Assista:

O setor de Ciência e Tecnologia, responsável pelas pesquisas urgentes de combate ao novo coronavírus, cujos resultados são aguardados pela população com ansiedade, também enfrenta realidade de precarização dos serviços, conforme explica o presidente do SindGCT, Roberto Muniz. “Não procede que o Brasil seja uma máquina inchada”, afirma.

Para Muniz, a falta de pessoal prejudica a implementação de pesquisas de enfrentamento à pandemia. “Não somos marajás. Para cumprir melhor nossas funções, precisamos de mais gente e mais recursos. Assim o Brasil poderá crescer”, completa. Assista:

Todos os vídeos foram enviados à produção do Jornal Nacional para divulgação do contraponto à matéria do Instituto Millenium, mas não foi dado espaço para as contestações na última edição do noticiário.

Twitter

Pelas redes sociais, especialistas também questionaram o estudo e afirmaram que os números apresentados são falhos. Pedro Rossi, economista e professor da Unicamp, tuitou: “O funcionalismo cresceu nos municípios onde 40% das ocupações são professores, médicos, enfermeiros e agentes de saúde, núcleo duro da educação e saúde. Mulheres são maioria e o salário médio é R$ 2,9 mil (2017)”.

A economista Laura Carvalho, em resposta ao gráfico apresentado pelo Jornal Nacional, compartilhou pelo seu perfil do Twitter uma reportagem da revista Piauí, que apresenta dados reais da disparidade entre servidores públicos. O deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) também criticou a matéria: “Além de usar como fonte o Instituto Millenium, Jornal Nacional volta a demonizar os servidores públicos sem levar em consideração as desigualdades no setor e sem um palavra sobre taxar as grandes fortunas e sobre os grandes sonegadores.”

ABAIXO, MATÉRIA ORIGINAL

Autor

  • A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) foi criada em 1990, após três Congressos consecutivos de servidores públicos federais, com a participação de delegados sindicais de todo o Brasil e diversas entidades.