Desde a última terça-feira, o INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais) vivencia a expectativa em torno da divulgação do nome de seu novo diretor. Na data, a lista tríplice definida por um comitê de especialistas foi enviada ao MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações). Caberá ao ministro Marcos Pontes, certamente após consulta com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), definir qual nome será escolhido.
O processo traz uma situação peculiar: os nomes que compõem a listra tríplice não são conhecidos até o momento. Apesar de não haver previsão legal para divulgação dos selecionados, nas outras ocasiões em que um novo diretor estava para ser definido, os nomes sempre vinham ao conhecimento dos servidores do INPE, por vias não oficiais, antes da escolha final de Brasília.
Acontece que os candidatos mais cotados pela comunidade científica não são exatamente os alinhados com o atual governo. Será que o MCTIC vai respeitar a seleção do comitê ou vai fazer o INPE engolir uma escolha política, indicando um nome que não estava na lista tríplice? Ou será que o comitê sofreu algum tipo de pressão para indicar um nome que agrade ao atual governo? Estas são algumas das dúvidas que ainda pairam no ar.
É preciso lembrar que o INPE atualmente está nas mãos de um diretor interino, o coronel da Aeronáutica Darcton Damião, que tem cumprido com primor as ordens recebidas de cima, como fazer uma reestruturação sem participação dos servidores e exonerar, sem aviso, coordenadores.
Damião é um dos postulantes ao cargo de diretor e foi acusado de vantagem indevida, ao criar uma nova estrutura no Instituto, que ficou desconhecida até meados de julho e veio a público 3 meses após a abertura do processo de seleção do novo diretor e apenas 23 dias antes da apresentação pública dos candidatos.
O INPE tem sido alvejado por todos os lados no atual governo. O presidente Bolsonaro bem que gostaria de baixar uma censura, ao modo militar, nos dados gerados pelo INPE. Mas ele sabe que não pegaria bem, ainda mais num momento em que seu vice, o general Mourão, gasta saliva para tentar convencer investidores a não abandonar o Brasil por conta das notícias sobre a destruição da Amazônia e de outros biomas brasileiros, como o Pantanal.
Por isso, Bolsonaro tem feito um movimento mais engenhoso – e eficiente – para interferir nos trabalhos deste Instituto: o está matando por dentro e no imaginário da população.
Campanhas de difamação, cortes orçamentários radicais, desmobilização de servidores e tentativas de esvaziar as competências do INPE – investindo e transferindo para órgãos militares ações que há décadas são realizadas pelo Instituto -, são algumas das “táticas” usadas pelo Governo Federal para acabar com o órgão.
A escolha do novo diretor vai ditar os rumos que o INPE tomará nos próximos anos: se continua a ser uma instituição pública e civil, comprometida unicamente com a ciência e com o serviço público, ou passa a ser uma instituição militarizada, refém das decisões patológicas do Governo Federal.
E esta escolha, infelizmente, será tomada entre quatro paredes e a gente sabe por quem.
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