O ano era 1968. Eu cursava o 4º ano de Eletrônica Industrial no Liceu Eduardo Prado – LEP. Queria ser engenheiro eletrônico, ou melhor, já não queria mais.
Era muito difícil e vi que teria que descobrir logo outra profissão, pois meu irmão menor já estava prestando vestibular.
Como sempre gostei de desenhar e construir, arquitetura me pareceu a melhor opção.
Pequeno Grande problema: só havia duas faculdades no Estado de SP inteiro, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU-USP e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie, e eu estava certo de que não entraria em nenhuma delas.
Um dia, apareceu no cursinho preparatório para o vestibular, o arquiteto Vicente Paulo Borges Bicudo para fazer propaganda da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Elmano Ferreira Velloso – FAU-SJC, faculdade da qual ele seria o primeiro diretor. Bicudo percorreu várias cidades do estado, a fim de promover a nova Faculdade.
A nova faculdade brilhou como uma luz no fim do túnel. “Em São José dos Campos, eu entro”, pensei.
Naquele ano, o governo militar havia permitido a abertura de inúmeras faculdades particulares. Três delas eram de arquitetura: em São José dos Campos, Santos e Mogi das Cruzes. O ensino, que até então era um direito do cidadão, passava a ser um produto caro.
Com muita alegria, consegui ser aprovado em São José dos Campos e nem fiz os outros vestibulares.
Logo no primeiro dia de aula tive uma grande decepção: a faculdade não existia, não possuía nem prédio!
Muito inconformados, nós começamos nosso curso nas salas de aula dos cursos de direito e de engenharia, cedidas pela Fundação Valeparaibana de Ensino – FVE, hoje UNIVAP, onde foi montado um Laboratório de Audiovisual.
Começamos a fazer assembleias pedindo satisfações à entidade mantenedora para que se manifestasse sobre o assunto.
Nesse meio tempo, havia um projeto novo: queriam implantar em São José dos Campos o Instituto de Projeto e Comunicação – IPC, uma mistura de FAU com Escola de Comunicação e Artes – ECA.
O corpo docente, composto por arquitetos de prestígio que já haviam participado de experimentos na Universidade de Brasília como Paulo Bastos, Milton Peligiotta, Leo Nishkawa, Zigbert Zanetini, Dalton de Lucca, Ricardo Othake, Chico Segnini, Mayume Souza Lima, Plácido de Campos Jr, Guilherme Lisboa, Walter Rogério, entre outros, procurava, de forma muito desgastante, contornar a situação. No meio do ano letivo, em 1970, foram demitidos.
Os alunos também se manifestaram através de um ofício ao Ministro da Educação, Jarbas Passarinho, informando o motivo do movimento: a sustentação do IPC.
Logo apareceu um novo corpo docente, com professores do Mackenzie, que impuseram uma linha dura.
Explicávamos para eles que aquilo não daria certo, pois tínhamos iniciado um novo e original ensino de arquitetura e lutaríamos para mantê-lo.
Pouco tempo depois, os primeiros professores remanescentes entregaram suas cartas de demissão.
Diante da saída do corpo docente, o novo diretor da FAU-SJC, Aloísio Rosa Monteiro, procurou reconstituir o corpo docente original.
Mais adiante, voltaram alguns dos primeiros professores, mas continuávamos sem prédio ou qualquer outra estrutura.
A cada mês, novas demandas e novas crises.
Finalmente, no terceiro ano do curso, conseguimos o maravilhoso prédio do antigo seminário e, mais tarde, a biblioteca. A oficina de maquetes só chegou quando eu já cursava o quinto ano.
Brigas internas entre professores criaram instabilidade na faculdade.
Na época, me disseram que um grupo de estudantes teria viajado a Brasília para pedir uma intervenção federal na faculdade.
O MEC decidiu, então, nomear um interventor, o professor Aroldo Borges Diniz. 80% dos professores foram demitidos e, em seguida, a faculdade foi fechada por tempo indeterminado. The dream is over.
Para nós, que estávamos no quinto ano, foi ofertada a colação de grau em Mogi das Cruzes. Os demais seriam distribuídos pelas outras FAUs que os aceitassem.
PS – Durante o segundo ano, fui convidado por Artur Cole a morar em uma república e virei gente. Conheci ali minha segunda família.
Mesmo tumultuada, a FAU-SJC foi determinante para estruturar meu olhar para o que viria a seguir.