Sobre o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips
Sobre o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips

Sobre o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips

A diretoria do SindCT tem acompanhado com preocupação as notícias sobre o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Entendemos que, por se tratar de uma região conflituosa, as autoridades brasileiras têm o dever de enviar reforços para fortalecer e ampliar as buscas pelos desaparecidos.

Neste momento, nosso clamor se une aos Indigenistas Associados.

Apreensão e indignação frente ao desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips

A Indigenistas Associados, associação de servidores da Funai, acompanha com apreensão, indignação e preocupação a notícia divulgada pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), e largamente veiculada pela mídia, a respeito do desaparecimento do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, desde o dia 05 de junho, na Terra Indígena Vale do Javari, localizada no extremo oeste do estado do Amazonas, na tríplice fronteira entre Peru, Colômbia e Brasil.

Nos solidarizamos com amigos e familiares e reforçamos o clamor da sociedade para que as buscas sejam realizadas com a maior celeridade possível, e que os acontecimentos sejam apurados com seriedade e rigor. 

Bruno Araújo Pereira é servidor do quadro efetivo da Funai desde 2010, tendo sido Coordenador Regional da Funai no Vale do Javari por mais de cinco anos, sendo reconhecido pelos indígenas com os quais trabalha e pelos seus colegas como um grande exemplo profissional e de comprometimento com a proteção e a promoção dos direitos indígenas. No exercício da missão institucional enquanto servidor público do órgão indigenista, Bruno coordenou inúmeras ações para coibir tráfico de caça, pesca e madeira do interior da Terra Indígena Vale do Javari, além de ter aberto e fortalecido Bases de Proteção Etnoambiental para proteção aos povos indígenas isolados e de recente contato que habitam esse território. No combate às pressões exercidas por inúmeros invasores, sua atuação sempre se orientou pela busca em proporcionar maior segurança e autonomia aos povos indígenas, garantindo o usufruto pleno sobre os seus territórios.

Destacamos que a região na qual Bruno e Dom Phillips se encontravam é uma área vulnerável a inúmeros ilícitos, potencializados pelo contexto de fronteira internacional, sendo premente a necessidade de ações continuadas do Estado brasileiro na região, sobretudo no que tange às ações de proteção territorial.

Relembramos que em setembro de 2019 o colaborador da Funai Maxciel Pereira dos Santos, que trabalhava para a Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, foi assassinado a tiros em Tabatinga, sem que o crime tenha sido devidamente apurado. Até hoje, os criminosos não foram identificados, julgados e punidos. Reforçamos ainda que as Bases de Proteção Etnoambiental na Terra Indígena Vale do Javari são alvo recorrente de ataques de invasores, existindo ao menos oito episódios registrados de uso de violência armada contra servidores e indígenas nestes locais, desde o ano de 2018.

Ressaltamos que a falta de apuração e de punição dos crimes cometidos contra servidores da Funai nesta região, mas também em outros locais de conflito envolvendo povos indígenas e seus territórios, fortalecem a ocorrência de ilícitos e de atentados à vida de indígenas e de servidores públicos. A impunidade, aliada aos prejuízos causados à política indigenista pelo atual governo, em especial para a política de proteção aos povos indígenas isolados e de recente contato, favorecem o sentimento de vulnerabilidade e fragilidade dos servidores que seguem atuando como agentes públicos do Estado brasileiro junto aos povos indígenas na defesa de seus direitos e de seus territórios.

A Indigenistas Associados requer o máximo empenho das autoridades competentes (Polícia Federal, Exército Brasileiro, Ministério da Justiça, Funai, Força Nacional e outros) na busca pelos desaparecidos e na adoção de providências em caráter emergencial para garantir a proteção aos povos indígenas e aos servidores públicos nesta região.

matéria publicada pelo site: https://indigenistasassociados.org.br/