Meu caro, enfim é chegado seu aniversário. Gostaria de ter o que comemorar, mas não há clima para tal. Os tempos estão difíceis.
Recebo com frio na barriga cada notícia sua, por medo de ser o relato de mais um golpe sofrido. Desconfio das boas novas que chegam, duvidosa das intenções daquele que atualmente te comanda, lá de Brasília, sentado na cadeira da ignorância.
Acho que ele não sabe do seu pioneirismo na exploração do espaço, da sua capacidade de olhar, lá de cima, o que acontece em nosso solo, da sua infinita geração de informação e conhecimento em assuntos tão vastos quanto a origem do Universo ou o desmatamento das florestas. Você até nos avisa quando vai chover!
Talvez ele ignore que você é um centro de excelência, e referência internacional, em pesquisas de ciências espaciais e atmosféricas, engenharia espacial, meteorologia, observação da Terra por imagens de satélite e estudos em mudanças climáticas.
Provavelmente ele está alheio ao fato de que suas pesquisas já foram citadas em milhares de artigos científicos ao redor do mundo, que dentre os cientistas mais influentes do planeta, vários trabalham ou trabalharam por aí, e que os estudos que garantiram o Nobel da Física de 2006 ao americano George Smoot contaram com sua inestimável colaboração.
Ou talvez ele saiba. E tenha medo de você. Por isso tenta, de todas as formas, te silenciar pouco a pouco, ceifando recursos, te difamando, tirando de você o protagonismo de seus melhores produtos. Medidas que depois ele tenta justificar usando palavras bobas, como “sinergia” e “otimização”, e que, cá entre nós, não convencem a ninguém. Seu brilho ilumina a pequenez do ser abjeto que ele é.
Mas, assim como na ciência a mudança constante é esperada, tenha certeza de que o cenário atual também há de mudar. “Panta rei”, tudo flui, dizia o grego Heráclito, daquele outro campo do conhecimento, a filosofia.
Portanto, meu caro INPE, neste ano em que você completa seis décadas, não vou te desejar um “feliz aniversário”, porque sei que felicidade é um sentimento que anda escasso ultimamente.
Te desejarei, ao invés, um “melhor aniversário”, com os mais sinceros votos de que, num futuro diferente, você possa de fato comemorar, com a força e altivez que lhes são características.
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