‘Maçãs podres’ desmatam e prejudicam agronegócio
‘Maçãs podres’ desmatam e prejudicam agronegócio

‘Maçãs podres’ desmatam e prejudicam agronegócio

Retirado do G1

Na última quinta-feira, o Senado Federal realizou uma sessão temática sobre desmatamento. A sessão foi proposta pelo senador ruralista Luis Carlos Heinze (PP-RS). Para o parlamentar, o Brasil vive “maciça campanha internacional”, que tem como objetivo “abalar a imagem do país e represar o desenvolvimento social e econômico”, discurso semelhante ao do presidente Jair Bolsonaro.

A sessão só não foi totalmente comandada por ruralistas porque o senador Randolfe Rodrigues conseguiu inserir especialistas na área de desmatamento para também serem ouvidos.

O termo “maçãs podres” foi dito por Raoni Rajão, coordenador do Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Segundo Raoni, o grupo de pesquisadores que ele integra concluiu que 2% dos imóveis rurais da Amazônia e do Cerrado são responsáveis por 62% da área desmatada ilegalmente nessas regiões.

São as maçãs podres que nós apontamos no nosso artigo. São essas as pessoas que, infelizmente, estão trazendo um mau nome e estão prejudicando todo o nosso agronegócio, inclusive não só comercialmente, mas também gerando problemas climáticos que já estão sendo observados em algumas regiões do Brasil por causa do desmatamento que está acontecendo ali”, disse.

Raoni Rajão declarou também que o Brasil, ao lado de alguns países da América Latina e da África, é um dos que está desmatando mais do que restaurando.

O Brasil merece essa pecha de país que, de fato, é o líder mundial do desmatamento? Infelizmente, sim. Se você olhar levantamentos globais feitos pela FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura], o Brasil desmata quatro vezes mais do que o segundo colocado. Foram 30 milhões de hectares entre 1992 e 2015. De fato, é um recorde, que nos coloca isolados no mundo, como um dos países que, apesar de ser muito rico, é o país que mais rapidamente está perdendo a sua riqueza”, disse.

Ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara disse que o órgão, que sofreu ataques na gestão Jair Bolsonaro, é técnico e não tem “viés político”.

Na mesma linha dos colegas, disse que é possível “proteger tanto quanto produzir”, o que já foi demonstrado em momentos anteriores.

Segundo o Inpe, o desmatamento na região foi de 11 mil km² entre agosto de 2019 e julho de 2020, o que representou aumento de 9,5% em relação ao período anterior (agosto de 2018 a julho de 2019).

Além disso, também segundo o instituto, as queimadas na Amazônia entre janeiro e outubro de 2020 superaram todo o número registrado em 2019.

Paulo Artaxo, professor de física da Universidade de São Paulo, afirmou que a degradação da Amazônia está promovendo uma série de processos de alteração no ciclo hidrológico do país.

Para ele, a continuidade na emissão de gases do efeito estufa dará causa à elevação na temperatura média do país, na ordem de 5 graus, prejudicando o agronegócio.

Esse é o aumento projetado da temperatura esperada para o Brasil, e a gente observa que Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás podem ter um aumento de temperatura da ordem de 6 a 7 graus. Acho que não precisa ser cientista para você perceber que isso pode impactar, e muito, o agronegócio brasileiro”, comentou o pesquisador.

Alfredo Homma, pesquisador da Embrapa, disse que “são poucos sujando o nome da maioria”. Ele também defendeu a modernização na produção de 750 mil pequenos produtores da Amazônia, a redução de pastagens, o reflorestamento, o incentivo à criação de peixes na região e o enfrentamento a atividades ilícitas, como o garimpo ilegal, invasões de áreas indígenas, contrabando de fauna e flora, entre outras.

O desmatamento da Amazônia ainda vai continuar pelos próximos dois, três, cinco, dez anos, se a gente não conseguir colocar alternativas tecnológicas econômicas para pequenos, médios e grandes produtores. E o discurso da biodiversidade tem que sair dessa abstração, nominar esses produtos e fazer um esforço de fordismo, de taylorismo de pesquisa, para tentar criar essa oportunidade fazendo uma nova agricultura na Amazônia”, avaliou Homma.

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