Em 2019 o presidente Jair Bolsonaro ficou irritado com o Inpe mas se conteve, não deu ‘porrada na boca’ de ninguém. Aconteceu quando o órgão demonstrou que o desmatamento na Amazônia iria explodir, como de fato aconteceu. Bolsonaro exonerou o diretor e cientista Ricardo Galvão. Foi um escândalo nacional, e internacional. Pouco depois Ricardo Galvão foi eleito pela revista Nature, ícone mundial da ciência, como um dos dez mais importantes cientistas do século. Mesmo com a saída de Galvão, a ira de Bolsonaro contra o Inpe persistiu. É o que mostramos no post de opinião, Governo Bolsonaro acabando com o Inpe, a vingança segue.
O Inpe, que sempre foi respeitado, começou a receber sinais de que algo estranho estava no ar. Em 2020 o vice-presidente, Hamilton Mourão, passou a criticar o órgão na TV em horário nobre. Alegava que com os dados do Inpe não era possível monitorar a Amazônia (ele é o responsável pelo Conselho da Amazônia), acusação prontamente rebatida por Carlos Nobre, na TV e em entrevista a este site pelo próprio Ricardo Galvão.
Simultaneamente, um personagem conhecido do meio ambiental influente na corte, com farto acesso a dados de satélites, passou a publicar artigos onde dizia que as Reservas Legais (Áreas de preservação obrigatórias, 80% de cada propriedade na Amazônia) estavam todas de pé, não explicando porém que grande parte delas ainda está de pé mas muito degradadas.
Este mesmo personagem insiste em sua cantilena solitária, enquanto o Inpe mostra ano a ano, mês a mês, o tamanho cada vez maior da proliferação dos focos de incêndio (processo que prepara o terreno para mais tarde ser vendido com altos lucros pelas quadrilhas de grileiros e especuladores, como bem mostra o documentário Amazônia Sociedade Anônima), dizendo que ‘o Brasil é o país que mais preserva’.
Enquanto isso…
Governo quer gastar R$ 145 milhões para monitorar Amazônia
Apesar de até o momento em toda sua existência nenhum governo anterior ter atribuído falhas no Inpe pelo desmatamento na Amazônia, em agosto de 2020 a sociedade foi surpreendida com esta nova informação: “O governo pretende comprar um microssatélite de R$ 145 milhões para fazer o monitoramento da devastação da floresta amazônica.”
Mourão se apressou a defender a compra. Para ele o Brasil tem que ter “soberania” no monitoramento da floresta via satélite. E declarou: “A Defesa está providenciando isso daí. Existe satélite japonês, existe satélite de outras nações aí que você compra a imagem, mas você não tem soberania. Faz parte do programa espacial brasileiro, está dentro da agência espacial brasileira.”
E completou ao G1: “Ele [o microssatélite] completa a cobertura do Censipam [Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia, ligado à Defesa]. Uma das antenas desse satélite será instalada aqui em Formosa [entorno de Brasília], e ela se estende até a nossa plataforma marítima.”
Como assim, ter soberania, então não temos?
O Deter intenso
É outra novidade que o Inpe trouxe ao governo este ano para aprimorar ainda mais o seu trabalho soberano para o País. Ricardo Galvão explicou as novidades ao Mar Sem Fim. E mesmo assim querem gastar mais R$ 145 milhões quando o País enfrenta a maior crise econômica da história recente? Não faz sentido.
Fui investigar.
O site mar sem fim
Felizmente este site é respeitado e tem entrada em todos os lugares. Descobrimos que mesmo antes de Bolsonaro assumir, o tal personagem que diz que ‘somos o País que mais preserva’, fez forte pressão para que o sistema de monitoramento do Inpe fosse substituído pelo da norte-americana Planet. Isso aconteceu no período de transição, entre a saída de Temer e a entrada de Bolsonaro.
Estas reuniões não foram acompanhadas por ninguém do ministério do Meio Ambiente, mas por pessoas de fora, como descobrimos, que ficaram impressionadas com os ataques ao Inpe e a forma incorreta como um agente público tratava diretamente com uma empresa privada sobre sua contratação.
O currículo invejável, mas…
É brilhante e imenso. Informa, entre outras, que “é autor e co-autor em mais de 50 livros em português, inglês, francês, italiano, espanhol e mandarim.” Quase caí de costas. Nem Gabriel Chalita conseguiu. Churchill também não foi capaz. Desconfio de quem tem o ego maior que o oceano Pacífico. Xeretei mais.
Está escrito no currículo que ele tem “centenas de trabalhos publicados no Brasil e exterior”. Na realidade 81, e não são trabalhos científicos e sim, em sua grande maioria, textos para revistas e jornais não reconhecidos como científicos (ou seja, sem avaliação por pares), descobri.
gora surge esta notícia da inesperada compra por R$ 145 milhões…
Porque este cidadão faria isso? É um mistério que pretendemos descobrir, por enquanto fica a forte suspeita de contaminação cerebral, com doses de ciúme em não ter acesso aos dados do Inpe que seriam superiores aos que ele tem acesso. É uma suspeita, ainda não posso afirmar categoricamente mas, através de fontes e muita pesquisa, é a explicação que encontro hoje.
Conheço o personagem
Faz tempo, e através de conhecidos. Já fiz até uma viagem para a Amazônia com ele ainda na década dos 80, quando saímos de barco de Manaus e subimos até Barcelos, antiga capital do Estado. Ele queria estudar um rio na região. Eu o tinha na melhor conta até uns, digamos, ano e meio atrás… Agora surgem mais indícios que sustentam a suspeita de conataminação.
Sua atitude é menor, porque sabe que não corresponde totalmente à verdade, e ele tem base pra saber; só prejudica ainda mais o clima interno e externo, e a combalida economia. Como já dissemos nestas páginas, o Inpe é considerado exemplar pelas mais importantes revistas científicas do mundo, já foi elogiado por nada menos que a Nature.
Transformar Fernando de Noronha em canteiro de cultivo de hortaliças
Estes mesmo cidadão no passado, quando se discutia o que fazer com Fernando de Noronha, se transformá-la em parque nacional ou não, propôs transformar a ilha num grande canteiro de hortaliças, providenciou mapas onde trabalha, e passou a defender a possibilidade. Felizmente, ganhou o bom senso e foi criado o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha.
Mas é mais uma dica para entender a mente deste solitário defensor de satélites externos, e que tais, pessoa altamente inteligente e bem informada, com acesso por seu trabalho à enorme coleção de dados de satélites. E que, de repente, vai contra o mundo, o Inpe, e defende que todos estão errados; mas ele, o único correto nesta história.
Não acabou…
‘Agência Espacial Brasileira zera orçamento do Inpe para pesquisa em 2021’
Esta, a manchete da Folha de S. Paulo de 17 de agosto de 2020. Texto: “Em uma decisão unilateral, a Agência Espacial Brasileira decidiu cortar para zero o orçamento de pesquisa, desenvolvimento e capital humano do Inpe (Instituto Nacional de Ciências Espaciais) para 2021.”
Alguém pode me explicar?
E prossegue: “Na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2020, o Inpe recebeu R$ 118,2 milhões, em mais um de uma série de cortes anuais promovidos para manter o orçamento federal alinhado com o teto de gastos, estabelecido durante a gestão Temer, em 2016, por meio de emenda constitucional.”
“Para 2021, o PLOA prevê R$ 79,7 milhões, um corte de cerca de 33%. Mas provoca especial atenção a desuniformidade dos cortes. Enquanto a dotação que vem do MCTI, sofreu um corte de 14% (de R$ 54,6 milhões em 2020 para R$ 46,9 milhões em 2021), por parte da AEB o corte foi 49% (de R$ 63,6 milhões em 2020 para R$ 32,7 milhões em 2021).”
Conclusão da Folha de S. Paulo
“O corte brutal deixou o Inpe praticamente sem qualquer verba para pesquisa científica.”
Semelhanças entre o desmonte do Ministério do Meio Ambiente e o governo Bolsonaro acabando com o Inpe
Nós já comentamos ambos. Com 100 dias de governo mostrávamos a estratégia suicida de Ricardo Salles, no MMA. E mais recentemente, do Governo Federal contra o Inpe.
Agora consuma-se o fato, no ato de extrema irresponsabilidade de Bolsonaro que ainda não se tocou que é presidente de todos os brasileiros, mesmo daqueles que prefere ‘dar porrada na boca’ porque, ou não rezam por sua cartilha, ou perguntam sobre a origem do dinheiro que chove dos céus nas contas de sua família.
Mas, e a aprovação de Bolsonaro?
O Datafolha diz que é ‘a melhor desde o início do mandato’. Segundo a pesquisa, ‘37% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom, ante 32% o achavam na pesquisa anterior, feita entre 23 e 24 de junho’.
Mas não me venha com esta bobagem. Os índices subiram nas camadas mais baixas da pirâmide social, as classes ‘D’ e ‘E’, em razão da ajuda durante a pandemia.
O jornal Valor confirma: “A aprovação recorde de 37% do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) revelada pela pesquisa Datafolha mais recente, juntamente com a queda de rejeição de 44% para 34% em relação à pesquisa anterior, foi resultado em parte do auxílio emergencial de R$ 600, aliado à relativa saída de cena do presidente de crises políticas, segundo Eduardo Moreira, e criador do movimento #somos70porcento.”
Não vem com esta, Pedro Bó, defender o ‘proibido-para-menores’ por fazer o que é obrigado a fazer, não por mérito. Lembre-se, além de minimizar a pandemia desde o início, de promover aglomerações e dizer que ‘máscara é coisa de viado’, foi pilotar jet Sky no lago Paranoá no dia em que as mortes atingiam 86 mil pessoas, sempre exclamando ‘não ser coveiro’, ainda bem. Imagine o que aconteceria se fosse. Dançaria sobre nossos cadáveres com, ou sem máscara?
A subida nas pesquisas internas corresponde aos valores recebidos pelos menos favorecidos, não necessariamente por ser uma boa gestão.
Satélite de R$ 145 milhões é ‘cloroquina espacial’
“Uma “cloroquina espacial” – é assim que Gilberto Câmara definiu para André Borges, no Estadão, o sistema satelital que o ministério da defesa pretende contratar para o monitoramento da Amazônia ao custo de R$ 145 milhões.
“As razões da afirmação são simples. Primeiro, a tecnologia que a defesa pretende contratar foi desenvolvida na Finlândia para “olhar gelo” e não floresta. Por isso, não tem capacidade de penetrar abaixo da copa das árvores, nem de distinguir com qualidade árvores altas de arbustos ou árvores cortadas (a quem interessaria dados que não conseguem fazer essa distinção?).”
“Dalton Valeriano, servidor do INPE desde 1982 e coordenador do programa de monitoramento de 2003 a 2018, confirma que a tecnologia de “banda x” de transmissão usada pelo sistema que os militares pretendem comprar “não tem muita profundidade em floresta. É muito limitada para perceber uma área”.
E, então, você concorda?
Na verdade o que o poder público atual tem feito é introduzir absurdos no reto da população brasileira como este site já denunciou. A ‘penetração’ vem de todas as esferas do poder: a municipal, com o prefeito médico de Itajaí, ou a Federal, com ‘porradas na boca’ de quem faz perguntas pertinentes, ou impingindo um satélite de gelo pra ver a floresta Amazônica.
É o fim da picada!
E atenção, esta história do satélite cloroquina é muito, mas muito pior do que parece. Envolve devaneios militares que parecem há muito esquecidos, mas não estão. Ainda estamos em fase de apuração, mas o que já descobrimos vai deixar os brasileiros de bem estarrecidos. É assustador.
Anote o que falei: ‘estarrecidos’ e ‘assustador’. Semana que vem publicaremos o post Governo Bolsonaro acabando com o Inpe, a vingança segue II. Aguarde e verá.
No cenário interno, subida nas pesquisas; no externo, fuga de capitais
A atitude do governo não se justifica por nenhum ângulo que se analise. Apesar da melhora mostrada pelo Datafolha, no cenário externo é situação é oposta. Poucos dias atrás, Angela Merkel, que ao contrário dos franceses fala pouco e não havia se manifestado sobre os desmandos na Amazônia, sugeriu que ‘será difícil’ a provação do acordo Mercosul – União Europeia.
E a fuga de capitais é fato.”O Brasil perdeu US$ 30,6 bilhões de janeiro a julho (2020), tirados de aplicações em fundos de investimento, ações e títulos de dívida. O movimento se inverteu. Um ano antes tinha havido entrada líquida de US$ 14,1 bilhões – diferença entre ingressos e saídas. Em 12 meses a perda líquida chegou a US$ 52,3 bilhões,” disse O Estado de S. Paulo em editorial de 26 de agosto (Os dados estão no relatório do setor externo recém-divulgado pelo Banco Central).
Isso reflete apenas insegurança do mercado. “Há muita insegurança quanto ao futuro das contas oficiais e, de modo especial, da dívida pública”, diz o jornal. E por quê? Porque Bolsonaro se ocupa em agredir jornalistas num dia, no outro investe contra órgãos de notória capacidade técnica com prestígio mundial. O povo de fora percebe, e reage.
Como demonstrou desde 1º de janeiro de 2019, Bolsonaro se preocupa apenas com sua eleição. Esquece os reais problemas do País, promessas de campanha, e abre novas frentes de atrito.
E completa o Estado: “Mas além da saída de capitais tem havido menor entrada. Dirigentes de grandes fundos têm anunciado a disposição de evitar o mercado brasileiro enquanto o governo for tolerante à devastação ambiental.”
“Além de espantar investidores, a política do presidente Jair Bolsonaro dá argumentos ao protecionismo contra o agronegócio brasileiro. Até aqui, o verdadeiro agronegócio, eficiente e respeitador do ambiente, continua sustentando o superávit comercial e a segurança das contas externas.”
Um cafajeste irresponsável no Palácio do Planalto
Jair Bolsonaro não é apenas burro, é mal intencionado e autoritário; se lixa pra democracia, adora rachadinhas e está metido com milicianos da pior espécie, e é um tremendo cafajeste. Só uma pessoa que não se empresta importância, atrevida, mais especialmente por ‘estar’ presidente, poderia se comunicar com a população que deveria inspirar da forma grosseira como o faz.
Site ‘ecoterrorista’
É assim que os terraplanistas nos chamavam a cada vez que investíamos contra as sandices do poder central. Não venha você me acusar de mal educado por ‘xingar’ o presidente. Não xinguei, qualifiquei. E fui duro como ele tem sido. Quem não se lembra de…
“Porra!… isso tem que acabar!”, babando de ódio (referindo-se à interferências do STF em horário nobre na TV). Ou “e daí, não sou coveiro”, ao ser confrontado com mais de 80 mil mortes (tempos atrás)?
Ou a pérola de que ‘máscara é coisa de viado’.
Sem falar na “porrada na boca” mais recentemente, e no recado aos jornalista sobre a Covid-19: “Quando pega num bundão de vocês a chance de sobreviver é bem menor”.
A impressão do Mar Sem Fim
Jamais votaríamos numa criatura que passou 26 anos de pura ociosidade no Congresso, e que, em campanha declarou, “Pena que a cavalaria brasileira não tenha sido tão eficiente quanto a americana, que exterminou os índios (Correio Braziliense, 12 Abril 1998)”.
Avaliamos que o problema seria de falta de neurônios, mas ele tinha alguma visão prometendo acabar com a corrupção, e convidando Sérgio Moro para ministro da Justiça. Deu no que deu.
Ainda no início, e mesmo não tendo nele votado, ainda considerávamos que sua limitação não o impedira de perceber que o Estado precisava urgentemente de reformas estruturais, e que por isso trouxe um liberal para o ministério da Economia, Paulo Gudes; o mesmo Paulo Guedes que é bombardeado por Bolsonaro toda vez que ousa apresentar uma das reformas necessárias que sua excelência nem quer ver pela frente, a administrativa encabeça a lista.
Ainda na tarde 26 de agosto Bolsonaro lascou uma canelada pública em Paulo Guedes e toda a equipe do ministério que dirige, ao não aceitar os cortes propostos em benefícios (alguns relativos à imensa lista de privilégios do funcionalismo público) para com este valor turbinar sua aprovação, quer dizer, o novo programa que defende para substituir o Bolsa Família, de Lula do PT; para turbinar o Renda Família, do demagogo Bolsonaro.
Depois lembramos o papelão na (des) Educação e na Saúde; a destruição do MMA, seguida pela do Inpe. E mudamos de opinião.
Engodo eleitoral
Parte dos 57 milhões que lhes deu o voto foi iludido por promessas de campanha vazias (outra parte votaria mesmo sabendo). Agora teremos que aguentar o desmando, os desatinos, e a grosseria, pelo menos até 2022.
O Brasil não merece tanto.
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