‘Região não deveria reabrir’, afirma pesquisador do Inpe
‘Região não deveria reabrir’, afirma pesquisador do Inpe

‘Região não deveria reabrir’, afirma pesquisador do Inpe

Defensor de uma gestão regional da pandemia, o pesquisador Antonio Miguel Monteiro, um dos coordenadores do LiSS (Laboratório de Investigação em Sistemas Socioambientais) do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), vê irresponsabilidade na região.

“A irresponsabilidade dos centros dispersores foi o que levou à expansão do vírus, em razão dos deslocamentos na região”, disse ele ao Gabinete de Crise de OVALE. Na entrevista, ele prega mais atenção ao vírus. “Não estamos no platô e nem em condição de estar em fase amarela”. Confira:

Que avaliação faz da Covid?

Tudo acontece muito rapidamente e uma das dificuldades de controlar é a característica da pandemia. Quando fizemos a nota técnica em maio, os dados indicavam que os centros dispersores, as cidades da região com mais casos, tinham de certa forma de pactuar um acordo coletivo em toda a RMVale de controle da pandemia, o que chamamos de gestão solidária e responsável.

Não aconteceu?

Como a região é altamente conectada, quando esses municípios que são centros dispersores não exerceram essa responsabilidade coletiva da gestão regional, a pandemia se estabeleceu na região como um todo, porque o vírus não respeita nenhum limite. A irresponsabilidade dos centros dispersores, que têm os maiores recursos, foi o que levou à expansão do vírus, em razão dos deslocamentos na região. O baixo isolamento também contribuiu e não chegamos nem perto da meta de 70% nesses centros.

Em maio, vocês apontaram que o vírus chegaria forte nas pequenas cidades. E agora?

O pior é que, além de estar chegando ao Vale Histórico, nos centros dispersores o vírus continua ativo e estamos numa segunda onda e ainda subindo. Não estamos no platô e nem em condição de estar em fase amarela. Estamos no momento de refletir sobre as estratégias tomadas até aqui, mas não é isso o que temos visto. Dentro de São José e Taubaté, há mais casos e óbitos nas periferias pobres e também nos municípios menores, pela conectividade.

Tinham que pensar e planejar regionalmente?

Deveriam, devem e deverão pensar regionalmente. Embora tenhamos mais conhecimento hoje para trabalhar um controle melhor da epidemia, isso parece não estar sendo feito pelos principais centros dispersores. Há brigas contra qualquer evidência racional para avançar no sistema de cores do Plano São Paulo, de reabertura. A principal preocupação passou a ser: “Vou mudar de cor”, e não “qual é a minha situação”. Imagine se começarmos a reabrir as escolas?

Então, sem reabertura?

No Vale, a gente não deveria estar com o nível de reabertura em nenhuma cidade. A questão dos leitos funcionou, com o SUS e a chegada de equipamentos, mas não é suficiente, porque a doença vai atingir os mais pobres agora. Não só as cidades médias e pequenas, mas os mais pobres dentro das cidades grandes.

País demorou a agir?

A instalação da pandemia no Brasil se deu junto a uma crise de gestão sanitária. Temos problemas desde o princípio. O governo federal tem uma posição que ninguém sabe qual é, uma ‘não posição’, com sinais contraditórios. Os governos estaduais têm posições diferentes. Os municipais também diferentes dos outros. Não há uma cadeia clara de comando e controle, que é necessário numa pandemia, para normas e não dar informações contraditórias. Instituições como SUS, Fiocruz e Butantan é que estão salvando.

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